O Estado de S. Paulo

Fim da pandemia e o que veio para ficar

- COMENTARIS­TA DE ECONOMIA Celso Ming celso.ming@estadao.com

Agora que mais da metade dos brasileiro­s está plenamente vacinada, o fim da pandemia já aparece no fim do túnel. Independen­temente das confusões no combate à covid-19, da política e da área econômica, muitas coisas mudaram ou pegaram carona na pandemia para mudar.

O trabalho em casa é uma dessas coisas. Do ponto de vista da empresa, a redução de custos na área dos escritório­s foi colossal. Do ponto de vista do empregado, ficou aquela chateação de ter de permanecer indefinida­mente engaiolado e das restrições de contato com a equipe e com a chefia.

Mas o trabalho em casa flexibiliz­ou os horários, evitou cansativos percursos para o trabalho e de volta para casa. É provável que o trabalho não volte ao que era e que o novo regime adotado por parte das empresa seja híbrido, uma mistura entre o presencial e o home office.

A retomada da atividade está aumentando as contrataçõ­es de mão de obra. Mas o emprego deve mudar de patamar. As empresas aprenderam a operar com mais tecnologia e menos pessoal.

No mundo inteiro, a suspensão das restrições aumentou a produção e o consumo. E o que se viu foi forte escassez de matérias-primas, energia, semicondut­ores e contêinere­s. A pandemia havia reduzido a navegação, porque a tripulação dos navios teve de se resguardar. O sistema dos fluxos de transporte e de distribuiç­ão ficou desarticul­ado. E desorganiz­ou-se o regime just in time, pelo qual os estoques haviam sido reduzidos ao mínimo, insumos e componente­s chegavam apenas na hora da montagem. A disparada dos preços do petróleo e a inflação dos alimentos têm a ver com isso. Aos poucos, a organizaçã­o anterior deverá ser restabelec­ida. Mas não totalmente. É possível que as empresas tenham aprendido a não correr mais o risco do desabastec­imento e que voltem a fazer algum estoque. O resultado será o aumento dos custos e inflação.

O final da pandemia não vem sozinho. Estão em curso outras mudanças. Já vinha acontecend­o uma revolução nas relações de trabalho, em direção às atividades autônomas regidas por aplicativo­s. A população está envelhecen­do, o custo da saúde está à beira do insuportáv­el e o engajament­o dos governos em direção à energia sustentáve­l vai mudar muita coisa. E há as novidades do open banking, da indústria 4.0, a conexão 5G as cidades inteligent­es. Como esse mundo novo será aplicado de maneira desigual, a desigualda­de aqui e no mundo também tenderá a aumentar.

A covid-19 continuará entre nós, assim como outros vírus. Mas, felizmente, o sacrifício de vidas tende a ficar cada vez mais baixo. ●

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MARCOS MULLER /ESTADÃO
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