O Estado de S. Paulo

Inflação eleva chance de alta de juros pelo mundo

- IANDER PORCELLA

A persistênc­ia da inflação no mundo, em meio aos efeitos da reabertura econômica póscrise que parecem longe de terminar, tem levado a previsões de aperto monetário mais rápido nos países desenvolvi­dos.

O caso mais notável é o do Reino Unido: o mercado espera que o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) eleve a taxa básica de juros já em novembro. Segundo analistas, o Banco do Canadá (BoC, na sigla em inglês) e, até mesmo, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) também podem antecipar a mudança de postura com relação aos estímulos à economia.

O estopim para a disparada na alta de juros no Reino Unido veio com uma declaração do presidente do BoE, Andrew Bailey. Durante um seminário anual do G30, realizado no domingo, o dirigente disse que a instituiçã­o “terá de agir” se houver riscos para a inflação no médio prazo. O sinal de preocupaçã­o com o aumento dos preços foi interpreta­do como uma indicação de que a autoridade monetária pode se ver obrigada a elevar os juros para evitar uma desancorag­em das expectativ­as inflacioná­rias.

Nos últimos meses, sempre que aparecia em algum evento ou fazia algum discurso, Bailey vinha repetindo que a política monetária, em tese, não reage a choques de oferta, como os que afetam o mundo no momento. A elevação da taxa de juros deveria ocorrer quando a economia está superaquec­ida, com demanda em excesso. Nesse caso, o aperto monetário seria necessário para evitar um descontrol­e da inflação e não geraria impacto significat­ivo no cresciment­o.

É por isso que a maioria dos bancos centrais classifica a inflação atual como “transitóri­a”. De acordo com essa definição, os preços devem desacelera­r assim que as restrições na oferta forem resolvidas. O problema é que, se isso demorar muito, na visão de alguns economista­s, a alta da inflação causada pelo choque de oferta pode ser incorporad­a nas expectativ­as das empresas e das famílias, que poderiam passar a esperar preços cada vez mais altos. Isso levaria a uma “espiral” inflacioná­ria.

Os gargalos nas cadeias produtivas globais têm piorado, diferentem­ente do que se previa, com escassez de diversos itens usados na indústria, como os chips semicondut­ores. Esse cenário, por sua vez, tem elevado as projeções de inflação e reduzido as de cresciment­o econômico. Além disso, o mundo vive uma crise energética, também ligada a restrições de oferta e que gera alta nos preços do petróleo e do gás natural, aumenta o custo da eletricida­de e alimenta ainda mais a inflação.

Três dias depois da declaração de Bailey, foi divulgado o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) do Reino Unido. O indicador ficou em 3,1% em setembro, no acumulado em 12 meses, abaixo da estimativa de 3,2% do mercado. Mesmo assim, analistas dizem que esse aparente “freio” na inflação britânica não deve durar.

AÇÃO RÁPIDA.

“A inflação geral de setembro caiu devido aos efeitos de base, mas provavelme­nte aumentará novamente nos próximos meses e atingirá um pico de cerca de 4% no final do ano”, diz o economista David Alexander Meier, do Julius Baer. O banco suíço avalia que o BoE deve “agir mais cedo” contra os riscos de que a alta inflacioná­ria se torne mais permanente. •

Reguladore­s se mexem Os bancos centrais do Canadá e dos EUA já dão indicativo­s de que irão aumentar suas taxas

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