O Estado de S. Paulo

Guanabara faz aniversári­o e fica sem razão para celebrar

Espécie de ‘Black Friday particular’ do Rio, promoção da rede costumava gerar filas por quarteirõe­s, mas crise e pandemia esfriaram o ânimo neste ano

- DANIELA AMORIM • COLABORARA­M WILTON JÚNIOR E GABRIEL SAYÃO

A campanha de aniversári­o dos supermerca­dos Guanabara, considerad­a uma espécie de Black Friday 100% fluminense, costumava atrair milhares de consumidor­es, que formavam filas de madrugada à porta das lojas da rede para garantir a compra de produtos com descontos. Após o cancelamen­to da promoção em 2020, por causa da pandemia de covid-19, a rede reabriu ontem a temporada de liquidaçõe­s – só que com corredores vazios.

Houve uma mudança na estratégia de divulgação da campanha, justamente para evitar as tradiciona­is aglomeraçõ­es, que costumavam viralizar em vídeos nas redes sociais. No entanto, os clientes que comparecer­am ao mercado relataram que estão com menos dinheiro para encher a despensa.

“Não tinha muita gente”, disse Ronaldo da Conceição, 45 anos, contador e professor de Matemática, o primeiro da fila de clientes à espera, ontem, da abertura da filial do supermerca­do no centro de Niterói, região metropolit­ana do Rio.

Os alimentos comprados pelas famílias brasileira­s para consumo em casa chegaram a setembro 14,66% mais caros do que no mesmo período do ano anterior, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

A alta de preços ocorre num momento em que a taxa de desemprego permanece elevada – 13,7% no trimestre encerrado em julho, último dado divulgado pela Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua, também do IBGE –, com 14,1 milhões de pessoas procurando trabalho. Já a renda média de quem permanece trabalhand­o diminuiu 8,8% em um ano.

No supermerca­do, o professor Ronaldo lamentou que as promoções e a renda disponível não sejam mais suficiente­s para encher três carrinhos de compras, como fazia em anos anteriores. “Os preços não estão tão atraentes, e tem a situação atual do País”, justificou Ronaldo da Conceição.

O aposentado Ailton dos Santos, de 67 anos, manteve a programaçã­o de gastos com alimentaçã­o graças ao trabalho como vendedor de roupas por conta própria, que ajuda a complement­ar a renda da família. No entanto, ele conta que também teve de moderar as compras no supermerca­do.

“Já me programei, mas não para a quantidade que eu comprava antigament­e, um pouco menos. Devido a essa situação que estamos vivendo, da covid, muitos estão desemprega­dos, aí não têm condição de comprar como antigament­e. As coisas aumentaram muito mesmo”, contou Santos.

O primeiro dia de promoções costumava ter aglomeraçã­o e disputa entre consumidor­es por produtos, mas a primeira manhã de 2021 – a mais concorrida da temporada de liquidaçõe­s, por apresentar os descontos mais agressivos – transcorre­u sem que houvesse o esperado pico de demanda.

“Estou surpreso. Cheguei aqui às 6h30, no estacionam­ento tinha pouca gente. Em outros anos era um alvoroço”, lembrou Roberto Carlos Gonçalves, 54 anos, comerciant­e, que atribui a redução no movimento às condições financeira­s desfavoráv­eis da população. “Sem dinheiro, está muito difícil para todos nós.”

Em 2019, cerca 450 mil pessoas passaram pelas 26 lojas da rede no primeiro dia da campanha, que dura mais de um mês. Em função da crise sanitária, a empresa adiou a divulgação da campanha publicitár­ia sobre as liquidaçõe­s. Em vez de peças publicitár­ias anunciando a data ao longo de uma semana, os consumidor­es desta vez só souberam de véspera. O horário das lojas também foi antecipado em uma hora, passando de 8h para as 7h, para encurtar a espera dos clientes.

Surpresa Quem se dispôs a acordar cedo para chegar mais cedo às lojas se deparou com movimento tranquilo

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WILTON JUNIOR / ESTADÃO Não houve disputa pelos itens durante a promoção da rede Guanabara: corredores ficaram vazios

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