Semana de trabalho mais curta faz sucesso na Islândia
Estudo permitiu que trabalhadores encontrassem a melhor forma de trabalhar menos horas sem perder produtividade
Mesmo enquanto a pandemia de covid-19 obrigava as empresas de todo o mundo a repensar o ambiente de trabalho, os pesquisadores na Islândia já estavam conduzindo dois ensaios de uma semana mais curta de trabalho que incluíram 2,5 mil trabalhadores – mais de 1% da população ativa do país. Eles descobriram que o experimento foi um “imenso sucesso” – os profissionais conseguiram trabalhar menos, receber o mesmo salário, mantendo a produtividade e melhorando o bemestar pessoal.
A pesquisa da Islândia foi um dos poucos estudos abrangenes e formais sobre o tema. Então, como os participantes conseguiram isso e quais lições eles têm para o resto do mundo? A Bloomberg News entrevistou quatro islandeses, que descreveram alguns dos problemas iniciais que surgiram com a mudança de cronograma. Eles foram ajudados por seus empregadores, que tomaram medidas conjuntas, como matriculá-los em programas de treinamento formal em gestão de tempo para ensiná-los a reduzir suas horas de trabalho sem perder a produtividade.
Os ensaios também funcionaram porque tanto os funcionários quanto os empregadores foram flexíveis e se mostraram dispostos a fazer mudanças quando algo não funcionava. Em alguns casos, os empregadores tiveram de adicionar algumas horas de volta aos expedientes depois de cortá-las demais. A Islândia realizou os ensaios porque as pessoas estavam relatando expedientes de trabalho relativamente longos, com média de 44,4 horas por semana – a terceira maior entre os países acompanhados pelo Serviço de Estatística da União Europeia, o Eurostat.
Os participantes do estudo da Islândia reduziram suas horas de trabalho de três a cinco horas por semana e continuaram com o mesmo salário. Trabalhadores e gestores usaram técnicas simples para manter a produtividade e diminuir o tempo no escritório.
Como funcionários do Vale do Silício a Wall Street buscam maneiras para equilibrar trabalho e vida pessoal, aqui estão algumas dicas de alguns islandeses sobre o tema.
EQUIPE DE 140 PESSOAS. Como diretor da agência de terras da capital Reykjavik, Hjalti Guðmundsson gerencia uma equipe de 140 pessoas. A maioria trabalha fora do escritório, em tarefas como manutenção de estradas, limpeza de ruas e jardinagem. Antes de começarem o ensaio, em 2016, os funcionários trabalhavam durante longos expedientes, normalmente das 7h às 17h30, embora o trabalho depois das 15h30 fosse contado como hora extra.
Como a organização possui diferentes locais de trabalho, ele conseguiu experimentar dois modelos diferentes simultaneamente. Em alguns locais, quatro dos cinco dias de trabalho foram encurtados em uma hora, terminando às 16h. Em outros, a equipe realizava o expediente habitual de segunda-feira a quinta-feira e metade dele na sexta-feira.
Os salários continuaram os mesmos. Ao fim do ensaio, a equipe votou ao modelo preferido como um acordo permanente. O resultado foi claro: mais de 90% queriam encurtar sua jornada de trabalho em uma hora, quatro dias por semana.
FAMÍLIA. Arna Hrönn Aradóttir, gerente de projeto de saúde pública nos subúrbios de Reykjavik, foi uma das primeiras a testar o expediente mais curto, em 2015. Mãe de cinco filhos, Arna tinha dificuldades de conciliar a jornada de trabalho de oito horas e a vida familiar. No início do ensaio, escolheu encurtar seu expediente em uma hora todos os dias. Seu empregador a matriculou em um curso de gestão de tempo, no qual ela aprendeu a encurtar reuniões, reduzir o tempo com deslocamento e a planejar seu trabalho com mais eficiência.
“Sinto que estou mais focada agora”, disse Arna. “Antes da pandemia, eu gastava muito tempo indo a uma reunião de carro, mas agora posso sentar em meu escritório e participar de reuniões pelo computador. Então, ganhei quatro horas no meu dia de trabalho.”
Ela costumava trabalhar 40 horas por semana, mas agora trabalha apenas 36 horas, recebendo o mesmo salário e fazendo o expediente de oito horas de segunda-feira a quinta-feira e de quatro horas às sextas-feiras. “Isso me ajudou a passar mais tempo com meus filhos e a sentir menos estresse.”
FOLGA MAIS LONGA. Saga Stephensen começou a seguir a semana mais curta de trabalho em janeiro. Ela e seis colegas votaram para ter um dia inteiro de folga em sextas-feiras alternadas e fazer o expediente normal nos demais dias.
Assim como aconteceu com Arna, o empregador de Saga a matriculou em cursos de gestão de tempo. Além disso, decidiu-se não realizar reuniões nas sextas-feiras em que se trabalha, permitindo finalizar as tarefas ao fim da semana. “Você pensa se realmente precisa daquela reunião e se ela é necessária”, disse Saga.
Levou um tempo para ela e os colegas se ajustarem ao novo cronograma. Nas semanas em que tem folga na sexta-feira, ela percebe que acaba trabalhando mais horas nos outros dias. Porém, no geral, todos estão contentes com o arranjo. “As pessoas veem isso com algo positivo, todas estão se esforçando para fazer funcionar”, disse Saga. “Também somos encorajados por nossos chefes a aproveitar nossa folga e não trabalhar.”
Ela agora usa a sexta-feira em que está de folga para os afazeres domésticos, encontrar familiares e amigos e, algumas vezes, fazer uma curta viagem no fim de semana prolongado. Saga disse que acha mais fácil voltar para o trabalho depois da mudança. “Não fico triste pela folga que acabou, pois sei que há algumas pela frente.”