O Estado de S. Paulo

Facebook quer mudar de nome

- Pedro Doria E-mail: coluna@pedrodoria.com.br; Twitter: @pedrodoria É JORNALISTA

Éo truque mais velho na cartilha do branding – em crise extrema, mude o nome. Pois o Facebook acusou o golpe. Na semana que vem, segundo o Verge,a companhia deve mudar seu nome. As redes que controla continuarã­o como estão – o Instagram seguirá sendo Instagram, o WhatsApp também, o próprio Face continuará Facebook. A holding, porém, atenderá por outra palavra. A especulaçã­o é de que a companhia presidida por Mark Zuckerberg passará a atender por Horizon. Horizonte, em inglês.

O Facebook terá dificuldad­e de construir este argumento — afinal, compõe hoje quatro negócios. Dois são redes sociais, Face e Insta. O terceiro é quase uma rede, o WhatsApp. Só a Oculus, de realidade virtual, escapa ao campo. Mas é um negócio de nicho. Hoje, um negócio pequeno.

Segundo o Verge, o Facebook explicará que mudar o nome da holding tem a ver com o metaverso. Venderá ao mundo a ideia de que é a companhia que transforma­rá a internet num mundo em que virtual e real se confundem. No qual realidades virtual e aumentada se juntam para que tenhamos a sensação de compartilh­ar, com outras pessoas, o mesmo espaço ainda que estejamos em continente­s distintos. Poderemos assistir a shows e fazer reuniões. De repente, até namorar.

Há um problema. O metaverso é um conceito fascinante, é um futuro possível para a internet, mas o metaverso não existe e não está próximo de existir. Os planos para a internet móvel 6G passam, justamente, pela capacidade de equipament­os e banda processare­m e trafegarem informação o suficiente para permitir ambientes 3D em que convivería­mos uns com os outros mesmo que remotament­e.

Ocorre que o 6G está programado para os primeiros anos da década de 2030. Falta muito tempo ainda. Aliás, pergunte a quem está aí na mesa ao lado o que é metaverso. Contam-se nos dedos quem sabe explicar. E, ainda assim, é tudo só em teoria, coisa de ficção científica.

Do ponto de vista de marketing, é um pesadelo. O Facebook

anunciará ao mundo que, agora, é uma companhia que promove o metaverso. E rigorosame­nte nenhum de seus produtos pelos próximos anos oferecerá algo similar ao que o metaverso realmente é. Uma das cinco maiores companhias de tecnologia americanas vai fingir que está num negócio quando, em verdade, tem por clientes quase metade da humanidade noutro ramo.

Sem conseguir elaborar respostas para as acusações que recebe, o Facebook vai tentar fingir que o Facebook é um detalhe e só.

Sem respostas para acusações, Facebook quer fingir que o Facebook é apenas um detalhe

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