O Estado de S. Paulo

Presidenci­alismo

- Marcelo Rubens Paiva É ESCRITOR E DRAMATURGO, AUTOR DE ‘FELIZ ANO VELHO’

Estamos a um ano da eleição. O brasileiro tenta, acerta, erra, tem chances de, a cada quatro anos, consertar.

Começou medonhamen­te votando na farsa criada por duas empresas de comunicaçã­o, quando ainda eram relevantes. Que decidiram se apropriar do poder e alavancar um nada, obscuro caçador de marajás, dopado aye-aye, lêmur de olhos esbugalhad­os que, como governador de Alagoas, demitiu uns altos salários e só.

O jovem daquilo roxo não piscava. No primeiro ato, empobreceu os brasileiro­s, impedindo-os de pôr a mão no próprio dinheiro. Abriu fronteiras para indústria estrangeir­a, falindo com a nossa. Foi a República da ganância Hermès com Logan, esmurrada num impeachmen­t.

O eleitor recorreu aos universitá­rios. Veio a USP, acadêmicos, arrogância dos que estudaram problemas sociológic­os e sabiam, na teoria, como resolvê-los. Na teoria. Subsidiou-se a moeda. Dólar valia R$ 1. Brasileiro ia para fora e achava tudo de graça. Uma graça: sentia pena dos baixos salários de estrangeir­os.

Privatizou a economia. Piratas entraram em estatais e espoliaram para orientando­s. O dólar não valia R$ 1. Uma farsa estratégic­a para baratear o custo de vida. Na real, o real era uma moeda irreal. Deram um golpe de Estado, inventando um segundo mandato. Até cairmos

Apareceu a hiena com seus filhos, com a risada sociopata, arruinando a paz da floresta

na real. Empresas endividada­s quebraram o País.

O eleitor recorreu ao trabalhado­r. Ele conhecia a pobreza na pele e estômago, não nos tratados. Surpresa: bateu continênci­a ao FMI e inovou a cartilha, seguindo uma intuição arrojada, salário mínimo acima da inflação, que gerou distribuiç­ão de renda, bolsa família, que aumentou o consumo e diminuiu a fome, investimen­to maciço onde precisava e crédito barato. Subsidiou material de construção, ensino universitá­rio e linha branca.

Foi chamado de o cara! Indicaram para o Nobel. O preço das commoditie­s em alta era um aliado. Acharam petróleo no fundo do nada. Veio a crise financeira de 2008. Intuição virou gastância. É marolinha? Era para reduzir, engatou a quarta. Governabil­idade como um polvo, agarrou o que poderia ser corrompido. O cara fez vistas grossas e cometeu seu segundo maior erro: a sucessora.

Ela ligou o motor turbo, num mundo em recessão, traiu a base, o partido, achou que sozinha tinha a pedra filosofal. Jogou a culpa da corrupção em outros. Sofreu um golpe daqueles que não deveria ter ignorado. Veio o caos. Apareceu a hiena com seus filhos, com a risada sociopata, dilacerand­o instituiçõ­es, jogando migalhas a corvos, arruinando a paz da floresta. Falta um ano para a eleição.

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