Quando o homem vai desaparecer?
Eu tinha 12 anos de idade. Folhas brancas de papel formavam uma faixa horizontal na parede da sala de aula, na escola. Na extremidade esquerda, desenhamos uma linha vertical e escrevemos “3.200 anos antes de Cristo” e “fim da Pré-história”. E, na ponta direita, outra linha com o ano “1.968”. À sua direita, escrevemos “futuro”. A professora nos fez dividir a linha em cinco intervalos de mil anos e marcamos cada assunto que iríamos estudar.
Cinquenta anos depois, ainda cultivo uma linha do tempo. Ela descreve a história do Homo sapiens. O lado direito ainda termina no presente, mas o lado esquerdo começa em “250.000 anos antes de Cristo”. Em seguida, coloco “15.000 anos antes de Cristo”, o início da domesticação das plantas e animais. Em “3.200 anos antes de Cristo”, coloco o aparecimento da escrita, e o resto da minha linha do tempo continua mais ou menos igual.
O que mudou foi o comprimento da pré-história, um período que cobre 98% da história de nossa espécie. Na escola, estudei somente os últimos 2% da história da espécie humana. E nem chegamos no golpe de 1964.
Agora, um grupo de cientistas conseguiu medir com precisão a idade dos esqueletos mais antigos que conhecemos de nossa espécie, encontrados durante as décadas de 1960 e 1970, onde hoje é a Etiópia.
A idade desses esqueletos tem sido motivo de muita discussão, dada a dificuldade de determinar de que época é o material. Muitos cientistas acreditavam que essas pessoas tinham morrido entre 155 mil e 190 mil anos atrás.
Mas, analisando novamente a área onde os fósseis foram descobertos, foi possível correlacionar os sedimentos com o material depositado na região após uma erupção vulcânica, cuja data é bem estabelecida pelos pesquisadores.
Com esses novos dados, os cientistas estimaram que a idade desses esqueletos é de 233 mil anos, sendo que o intervalo de confiança dessa medida é de 22 mil anos, uma margem de erro de menos de 10%.
Assim, podemos afirmar que o ser humano surgiu no planeta aproximadamente há 233 mil anos. Ele pode ter surgido antes, mas não depois. Corrigi minha linha do tempo, que agora começa 233 mil anos atrás. O interessante é que o erro dessa medida (22 mil anos) é quase cinco vezes mais longo do que o período que estudei na escola.
Mas o que me preocupa é quanto tempo nossa espécie ainda vai sobreviver. Sabemos que mais de 99% das espécies que habitaram o planeta estão extintas. Serão mais 500 anos, 5 mil, 50 mil?
Depende de como nós conservamos o meio ambiente em que vivemos. Do jeito que a coisa anda, creio que mil anos seja um bom palpite. E, se assim for, já vivemos 99% de nossa existência. Estamos próximos do fim dela. O resto dos seres vivos agradece.
Mais informações: Age of the oldest known Homo sapiens from eastern Africa. Nature https://doi.org/10.1038/s4158 6-021-04275-8 2021. • É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS, ESCORREGADOR DE MOSQUITO; E A LONGA MARCHA DOS GRILOS CANIBAIS
Idade dos esqueletos humanos mais antigos encontrados é de 233 mil anos, segundo cientistas