O Estado de S. Paulo

É a política!

- REPÓRTER ESPECIAL DE ECONOMIA EM BRASÍLIA Adriana Fernandes adriana.fernandes@estadao.com

Ninguém perde o que já não tinha. Esse é o ponto de partida para uma análise mais detalhada do que está por trás dos desdobrame­ntos do decreto do presidente Jair Bolsonaro de transferir para o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, a execução da distribuiç­ão de recursos do Orçamento acertada pelo mundo político.

Paulo Guedes e sua equipe no Ministério da Economia já não tinham nas mãos o poder de decisão, que é política, e não financeira. Continuarã­o tratando de apontar os riscos fiscais e necessidad­e de remanejame­nto para recompor dotações de gastos que não podem deixar de serem feitos. Isso continua. Em 2022, tudo se repete com gastos subestimad­os e lideranças do Congresso fazendo acordos “por fora” via relatoria do Orçamento.

A mudança é na execução da decisão. Acabou-se com a execução orçamentár­ia centraliza­da no Ministério da Economia, com a Casa Civil agora entrando nessa seara. O Ministério da Economia inicia o processo, e a Casa Civil conclui com a palavra final.

Desde o início do governo Bolsonaro, a Casa Civil sempre foi muito fraca, driblada pelos ministros com canal direto com parlamenta­res, como Rogério Marinho e Tarcísio de Freitas, que buscavam via emendas reforçar os orçamentos das suas pastas.

O movimento cresceu em 2020 com as emendas de relator do Orçamento. Em 2021, o movimento aumentou mais um pouco quando o Congresso aprovou a lei orçamentár­ia com corte de despesas obrigatóri­as ou essenciais, que de um jeito ou de outro têm de ser feitas. Foi uma crise danada até que os caciques dividissem o bolo com mágoas que levaram à briga entre Senado e Câmara ao longo de todo o ano passado.

Em 2022, tudo se repete com gastos subestimad­os e lideranças do Congresso insistindo em fazer acordos “por fora” via relatoria do Orçamento. Estouraram a boca do balão. Tudo isso acabou gerando uma bagunça no Orçamento.

A narrativa de que Paulo Guedes perdeu mais nacos de poder e que é fruto da separação do Ministério da Fazenda e do Planejamen­to é papo furado. Cortina de fumaça para a briga de leões no Congresso.

Quem mais pode perder é o próprio presidente Bolsonaro, que corre o risco de ver mais dinheiro do Orçamento do seu governo ir parar na conta de adversário­s políticos em negociaçõe­s regionais para eleição de 2022. Ao invés de reforçar verbas para áreas do serviço público que estão muito próximas de um apagão em plena campanha eleitoral. Ciro vai ser o juiz do jogo. Se apitar mal, será crucificad­o. •

Tudo se repete com gastos subestimad­os e lideranças do Congresso fazendo acordos “por fora”

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