O Estado de S. Paulo

Vaivém da cotação do bitcoin gera dúvidas nos investidor­es

Alguns analistas veem o investimen­to como uma proteção contra inflação; outros dizem que o ativo tem o mesmo risco das ações

- REBECA SOARES

O vaivém da cotação da criptomoed­a bitcoin causa incerteza sobre o que o investidor deve avaliar no momento em que resolve aplicar nesse ativo. Alguns analistas e investidor­es de criptomoed­as veem o bitcoin como uma proteção contra a inflação. Outros consideram um ativo de risco, como as ações, que reagem à política monetária restritiva resultante da alta inflação.

Em novembro de 2021, o preço do bitcoin chegou a US$ 69 mil, valor máximo já alcançado. Dois meses depois, caiu para US$ 41,9 mil, queda de quase 40%. Na tarde da última terça-feira, porém, a criptomoed­a engatou um movimento de alta de 2,33% logo após a fala do presidente do Fed (o banco central dos EUA), Jerome Powell, sobre a política de juros americana, e atingiu os US$ 42,9 mil. Desde então, manteve o valor.

Ouvidos pelo E-investidor, portal de finanças pessoais do Estadão, analistas de criptoativ­os avaliam que o movimento de queda registrado ao longo dos últimos meses é resultado de movimentos do banco central norte-americano.

Orlando Telles, sócio fundador e diretor de research (pesquisa) da Mercurius Crypto, explicou que o principal fator de influência para a alta até novembro aconteceu por causa de alterações macroeconô­micas, como a redução das taxas de juros globais. Além disso, também foi impactado pelo aumento de estímulos do Fed.

Os dois movimentos fizeram com que investidor­es buscassem ativos para diversific­ar a carteira, como é o caso das criptomoed­as. “É um mercado em expansão, o que pode apresentar rentabilid­ade significat­iva e também contribui para a proteção contra a inflação.”

MERCADO GLOBAL. Para Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoed­as e fundador da Financial Move, a queda da cotação é a reação não só das criptomoed­as, mas do mercado acionário global à demonstraç­ão de aumento de juros na economia norte-americana.

“Cripto vem caindo como uma correção. Em 2020, vimos bater recordes perto dos US$ 70, mas com o preço atual ainda existe 100% de lucro se comparado ao último topo. Ou seja, a queda é relativa, uma correção natural do mercado”, avaliou.

Ele ainda disse que, com o aumento dos juros, a tendência dos ativos de renda variável é cair porque os investidor­es vão migrando para títulos de renda fixa. Lago explicou que investidor­es que compraram em valores próximos do topo podem ter sido influencia­dos pela euforia.

DIVERSIFIC­AÇÃO. “Isso deve permanecer para os próximos meses. Vamos ter a primeira reunião de ajuste apenas em março, mas o mercado já começa a precificar”, afirmou Telles. O especialis­ta indicou que, com a mudança de cenário, o bitcoin pode ter perdido atrativida­de no médio prazo. Por outro lado, no longo prazo, o investimen­to ainda vale a pena, mas os portfólios devem buscar diversific­ação dentro dos criptoativ­os.

Lago, da Financial Move, apontou que comprar a US$ 40 é melhor do que comprar a US$ 80. “O momento de queda é a chance de entrar no mercado e não de se desesperar. O investidor deve sair do efeito manada de comprar na alta e vender na baixa”, comentou. •

Teto Em novembro de 2021, o preço do bitcoin chegou a US$ 69 mil, valor máximo alcançado

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