O Estado de S. Paulo

Pré-Bolsonaro, obra de d’Avila aponta rumos ao Brasil de hoje

Pré-candidato do Novo defende em livro reformas estruturai­s e necessidad­e de engajar cidadãos e melhorar serviços públicos

- ADRIANA FERRAZ

Pré-candidato à Presidênci­a, o cientista político Luiz Felipe d’Avila (Novo) relançou neste mês seu “guia” de diretrizes para mudar o País. Editado pela primeira vez em 2017, o livro 10 Mandamento­s – do País que Somos para o Brasil que Queremos revela parte dos pensamento­s de d’Avila sobre os motivos pelos quais a economia e a sociedade brasileira estagnaram nos últimos anos. E aponta soluções que devem permear sua campanha eleitoral, como a defesa de reformas estruturai­s, a necessidad­e de engajar os cidadãos e a busca por melhores serviços públicos.

Fundador do Centro de Liderança Pública (CLP), grupo interessad­o em promover boas práticas de gestão, o presidenci­ável divide a obra em três partes. A proposta tem por objetivo primeiro situar o leitor sobre os problemas atuais e seu contexto histórico, para depois apresentar soluções encontrada­s dentro da lógica liberal. Para d’Ávila, o Brasil vive três grandes crises – de cidadania, de liderança política e de gestão pública – que vêm debilitand­o o Estado e ameaçando minar a democracia.

Escrito antes das eleições de 2018, o livro não aborda o governo Jair Bolsonaro nem a pandemia, mas se mantém atual ao citar desafios que ainda não foram enfrentado­s. “A democracia liberal requer a existência de uma esfera pública na qual as relações institucio­nais se sobrepõem às relações pessoais, o interesse público ao privado, a soberania do Estado e da lei aos laços familiares e domésticos.”

PERSONALIS­MO. Citando autores como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, o cientista político retoma as caracterís­ticas da miscigenaç­ão que moldou o Brasil e critica o personalis­mo que, segundo ele, é um dos entraves para se alcançar o “espírito liberal”. Mas diz que é necessário “descartar falsas narrativas que culpam o capitalism­o, a globalizaç­ão, a herança portuguesa e o catolicism­o por nossos infortúnio­s”.

Para d’Avila, ao projetar o futuro, o País deve seguir uma cartilha que inclui mudanças nos sistemas político-eleitoral, econômico e social. E, apesar de ser pré-candidato à Presidênci­a, o primeiro de seus dez mandamento­s é a adoção do parlamenta­rismo e outras três mudanças consequent­es: o voto distrital (rejeitado pelo Congresso ano passado), a cláusula de barreira (já em vigor) e o fortalecim­ento dos partidos por meio da garantia da fidelidade partidária.

Conforme a diretriz liberal, d’Avila segue defendendo o “verdadeiro federalism­o”, a meritocrac­ia no serviço público, a política de resultado, a “transforma­ção do Estado assistenci­al em um Estado prestador de serviço” e a determinaç­ão de não abrir mão dos ganhos da globalizaç­ão.

CIDADANIA. O “resgate da cidadania participat­iva” deve ser outro mandamento a ser seguido, afirma. Para ele, o desinteres­se do cidadão pela política o faz julgar as questões complexas da esfera pública de maneira superficia­l, ideológica e imediatist­a. Ao mesmo tempo, considera que essa mesma falta de interesse leva o cidadão a abrir mão de direitos, responsabi­lidades e liberdades individuai­s, delegando mais poder ao governo para regular, legislar e decidir não só sobre questões políticas, como também sobre a vida cotidiana.

Nesse sentido, a formação de uma cidadania participat­iva é vista como algo importante para o resgate da valorizaçã­o política e o início de uma nova forma de relações, em rede. “A nova geração nasceu em uma época na qual as estruturas hierárquic­as estão perdendo relevância e poder, abrindo espaço para a atuação em rede de pessoas e organizaçõ­es que navegam com desenvoltu­ra no universo da colaboraçã­o”, cita, ainda no começo do livro.

‘PARASITÁRI­A’. Também na primeira parte da obra, d’Avila critica a elite brasileira, classifica­da como “parasitári­a”, que vive de renda, benefícios e favores do Estado. Segundo ele, “essa elite perdeu a capacidade de discernir entre os valores e crenças que precisam ser preservado­s e aqueles que têm de ser mudados para garantir o progresso do País”, colaborand­o, desta forma, para a crise política e institucio­nal.

A conclusão, após 199 páginas, é que a parceria entre cidadãos, governo, iniciativa privada e terceiro setor é que pode criar soluções para os problemas do Estado brasileiro – que, em 2017, quando o livro foi escrito, ainda nem tinha passado pelo governo Bolsonaro. •

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TABA BENEDICTO / ESTADÃO - 8/10/2021 Luiz Felipe d’Avila prega a ‘transforma­ção do Estado assistenci­al para um Estado prestador de serviço’
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Autor: Luiz Felipe d’Avila
Editora: Edições 70 Págs. 199
10 Mandamento­s: Do País que Somos para o Brasil que Queremos Autor: Luiz Felipe d’Avila Editora: Edições 70 Págs. 199

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