O Estado de S. Paulo

Cuidar das pessoas em situação de rua

O enfrentame­nto da pandemia exige também cuidar da parcela da população mais vulnerável

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Apandemia trouxe inúmeros desafios. São questões sanitárias, sociais, econômicas e políticas que demandam respostas maduras e responsáve­is, tanto do poder público como da sociedade. Em algumas áreas, houve ações muito eficientes, como foi a vacinação de adultos contra a covid, a despeito do desleixo e da resistênci­a do governo federal na matéria. Como já dissemos, “em São Paulo, assim como em muitos locais do País, sociedade e poder público fizeram um excelente trabalho no enfrentame­nto da pandemia” (SP

prova que política pública funciona, 26.12.21). No entanto, apesar das ações eficientes, a pandemia não acabou, exigindo de todos cuidado e cumpriment­o dos protocolos. Não se pode baixar a guarda. Além disso, alguns efeitos da pandemia estão ainda em franco cresciment­o. É o caso das pessoas e famílias em situação de rua. Observa-se um aumento significat­ivo do número de pessoas nessas condições.

Essa dramática situação não é apenas consequênc­ia da pandemia. É também fruto da crise econômica e social que aflorou no governo de Dilma Rousseff e ganhou inéditas proporções no governo de Jair Bolsonaro. Não é demais repetir: a fome voltou ao País. E esse quadro de pobreza, vulnerabil­idade e desigualda­de foi agravado pela pandemia.

A passividad­e do governo Bolsonaro diante do número de mortes por covid no País – houve dias com mais de 4 mil óbitos pela doença – foi um absurdo humanitári­o e a negação de qualquer pretensão de eficiência do poder público. Tal irresponsa­bilidade gerou pronta reação de outros entes públicos, bem como da sociedade. Da mesma forma, a existência de muitas pessoas em situação de rua deve ser causa de indignação, com respostas efetivas das esferas pública e privada. Seria desumanida­de fechar os olhos a tantas pessoas absolutame­nte vulnerávei­s nas ruas, nas calçadas, nas praças e nos semáforos.

Desde o início da pandemia, houve muitas ações de solidaried­ade por parte da sociedade. Verificous­e significat­ivo aumento da quantidade de recursos doados a entidades filantrópi­cas. Em 2020, primeiro ano da pandemia, o total de doações foi mais que o dobro do ano anterior. De toda forma, é preciso fazer mais, como alertam as ruas de São Paulo e de tantas outras cidades. “Precisamos assumir, também, nossos deveres de solidaried­ade e ver que dentre pessoas que habitam no País há muitos que mal têm o que comer”, escreveu, no final do ano, o expresiden­te Fernando Henrique Cardoso (Nossa responsabi­lidade na pandemia, 21.12.21). Estimular a participaç­ão da sociedade não é, de forma alguma, diminuir a responsabi­lidade do poder público no enfrentame­nto desse desafio humano e social. Mesmo com todas as limitações fiscais, o poder público também precisa, em suas variadas esferas, fazer mais. A pandemia exige cuidar das vacinas, dos protocolos e dos hospitais. Mas todo esse empenho, fundamenta­l e necessário, deve também incluir, como prioridade, o cuidado com a parcela da população mais vulnerável, sem emprego, sem casa e, tantas vezes, sem comida.l

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