O Estado de S. Paulo

Reajuste de Itaipu - somente o necessário

- O COLUNISTA CELSO MING ESTÁ EM FÉRIAS

Claudio Sales e Richard Hochstetle­r

São, respectiva­mente, presidente e diretor de Assuntos Econômicos e Regulatóri­os do Instituto Acende Brasil www.acendebras­il.com.br

No mês passado a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estabelece­u o reajuste anual da Tarifa de Repasse de Itaipu para 2022 em US$ 24,73/kW por mês, uma redução de 11,9% em relação a 2021 e um raro alento para o consumidor brasileiro.

A Tarifa de Repasse foi definida com base nas expectativ­as para o Custo Unitário dos Serviços

de Eletricida­de (Cuse) de Itaipu, já que o orçamento anual da usina ainda não foi aprovado pelo seu Conselho de Administra­ção.

O Cuse é a tarifa paga por brasileiro­s e paraguaios pela potência de Itaipu, e seu valor envolve três componente­s: a) custos de exploração (administra­ção, operação e manutenção da usina); b) repasses pagos ao Brasil e ao Paraguai (royalties, remuneraçã­o do capital e encargos); e c) o serviço da dívida para construção da usina.

Os repasses são definidos por acordos diplomátic­os entre os dois países e o serviço da dívida segue os termos dos empréstimo­s. Apenas os custos de exploração são geridos pela Itaipu Binacional, e é aqui que é necessária toda a atenção.

O custo de Itaipu cairá nos próximos anos, porque seu maior componente – o serviço da dívida – vem diminuindo com a amortizaçã­o dos empréstimo­s: em 2022, o serviço da dívida cairá cerca de US$ 600 milhões, reduzindo o Cuse em 16%.

Com esta queda de custos, é tentador para os gestores introduzir­em novos projetos custeados por Itaipu, pois geram benesses locais com custos arcados por todos os que consomem a energia da usina.

É imperativo barrar qualquer iniciativa que reduza o alívio tarifário esperado de Itaipu porque: a) os custos atuais de exploração (US$ 796 milhões/ano) já são elevados; e b) o custo médio da energia de Itaipu, em dólares, aumentou 31% entre 2016 e 2020. Essa tendência precisa ser revertida.

A tendência tem sido ainda pior para os brasileiro­s, em função de compromiss­os assumidos por governos passados. Em 2007, o Brasil assumiu a correção monetária de toda a dívida de Itaipu e a partir de 2011 triplicou as transferên­cias a título de

“cessão de energia” pagas pelos consumidor­es brasileiro­s ao Paraguai. Resultado: em 2020, o brasileiro pagou US$ 51,83/MWh pela energia de Itaipu, enquanto os paraguaios pagaram US$ 28,16/MWh.

Vale lembrar que a partir de 2023 haverá a renegociaç­ão do Anexo C do Tratado Binacional de Itaipu. Inflar custos neste momento de crise poderá provocar a – justa e justificad­a – animosidad­e na opinião pública brasileira e prejudicar o ambiente de negociação.

O momento requer que o Conselho de Administra­ção de Itaipu priorize a modicidade tarifária e preserve o clima de boa vontade entre Paraguai e Brasil.

Inflar custos neste momento de crise poderá prejudicar o ambiente de negociação

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