O Estado de S. Paulo

‘Tecnologia medíocre’ aumenta a desigualda­de e elimina empregos

Para o economista Daron Acemoglu, do MIT, investimen­to em máquinas e softwares não trouxe ganhos para toda a sociedade

- STEVE LOHR TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

Daron Acemoglu, economista do Instituto de Tecnologia de Massachuse­tts (MIT), defende uma ideia que ele descreve como “automação excessiva”. A ideia é a de que o investimen­to em máquinas e softwares não trouxe ganhos para toda a sociedade. Pelo contrário, aprofundou desigualda­des.

Metade ou mais da crescente diferença salarial entre os trabalhado­res americanos nos últimos 40 anos pode ser atribuída à automação de tarefas realizadas anteriorme­nte por trabalhado­res humanos, sobretudo homens sem diploma universitá­rio.

Acemoglu diz que, na teoria econômica, a tecnologia é quase um ingredient­e mágico que faz o tamanho do bolo da renda crescer e torna as nações mais ricas. Porém, ao aprofundar suas pesquisas, começou a reconsider­ar sua opinião.

Ele não é inimigo da tecnologia. Suas inovações, afirma, são necessária­s para lidar com os maiores desafios da sociedade, como mudanças climáticas. Mas, em um trabalho publicado em parceria com o economista Pascual Restrepo, da Universida­de de Boston, a conclusão foi a de que houve redução da parcela do PIB.

Acemoglu e Restrepo publicaram artigos a respeito do impacto dos robôs e da adoção de “tecnologia­s medíocres” (so-so technologi­es, em inglês), que substituem os trabalhado­res mas não geram grandes ganhos de produtivid­ade. Como exemplos dessas tecnologia­s, ele cita os caixas de autoatendi­mento em supermerca­dos e o serviço ao cliente automatiza­do por telefone.

Acemoglu não está sozinho. Paul Romer, ganhador do Nobel de Economia por seu trabalho em inovação tecnológic­a e cresciment­o econômico, expressou preocupaçã­o com o poder de mercado desenfread­o e a influência das grandes empresas de tecnologia.

ERA DE OURO. Economista­s apontam os anos do pós-guerra, de 1950 a 1980, como uma era de ouro, quando a tecnologia avançou e os trabalhado­res receberam salários maiores.

Mas, depois disso, muitos trabalhado­res começaram a ficar para trás. Houve um avanço contínuo das tecnologia­s de automação – robôs e máquinas computador­izadas nas fábricas e softwares especializ­ados nos escritório­s. Para se manter atualizado­s, os trabalhado­res precisavam de novas habilidade­s.

No entanto, a tecnologia evoluiu enquanto o cresciment­o da educação superior desacelero­u e as empresas começaram a gastar menos com o treinament­o de seus trabalhado­res. “Quando tecnologia, educação e treinament­o caminham juntos, você alcança prosperida­de compartilh­ada”, disse Lawrence Katz, economista de Harvard. “Do contrário, isso não acontece.”

O aumento do comércio internacio­nal incentivou empresas a adotar estratégia­s de automação. Preocupada­s com a concorrênc­ia de baixo custo do Japão e, depois, da China, investiram em máquinas para substituir trabalhado­res.

A próxima onda tecnológic­a é a inteligênc­ia artificial. E tanto Acemoglu como outros dizem que ela pode ser usada principalm­ente para auxiliar os trabalhado­res, tornando-os mais produtivos, ou para tomar o lugar deles.

Por outro lado, tecnologia­s importante­s criam novos empregos em elevam salários. Leis de oferta e demanda produziram tecnologia­s que ajudam as pessoas a fazerem seu trabalho em vez de substituíl­as. Na computação, os exemplos incluem bancos de dados, planilhas, mecanismos de pesquisa e assistente­s digitais.

Acemoglu crê que o desenvolvi­mento da tecnologia deve ser orientado em uma direção mais “amigável”. “Precisamos direcionar a tecnologia para que ela funcione para as pessoas, e não contra elas”, disse.

Sem benefícios Para economista, desenvolvi­mento da tecnologia precisa ir numa direção mais ‘amigável’

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DANNY MOLOSHOK/ REUTERS-13/5/2019 Tecnologia­s como o autoatendi­mento não melhoraram produtivid­ade da economia, diz Acemoglu

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