‘Tecnologia medíocre’ aumenta a desigualdade e elimina empregos
Para o economista Daron Acemoglu, do MIT, investimento em máquinas e softwares não trouxe ganhos para toda a sociedade
Daron Acemoglu, economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), defende uma ideia que ele descreve como “automação excessiva”. A ideia é a de que o investimento em máquinas e softwares não trouxe ganhos para toda a sociedade. Pelo contrário, aprofundou desigualdades.
Metade ou mais da crescente diferença salarial entre os trabalhadores americanos nos últimos 40 anos pode ser atribuída à automação de tarefas realizadas anteriormente por trabalhadores humanos, sobretudo homens sem diploma universitário.
Acemoglu diz que, na teoria econômica, a tecnologia é quase um ingrediente mágico que faz o tamanho do bolo da renda crescer e torna as nações mais ricas. Porém, ao aprofundar suas pesquisas, começou a reconsiderar sua opinião.
Ele não é inimigo da tecnologia. Suas inovações, afirma, são necessárias para lidar com os maiores desafios da sociedade, como mudanças climáticas. Mas, em um trabalho publicado em parceria com o economista Pascual Restrepo, da Universidade de Boston, a conclusão foi a de que houve redução da parcela do PIB.
Acemoglu e Restrepo publicaram artigos a respeito do impacto dos robôs e da adoção de “tecnologias medíocres” (so-so technologies, em inglês), que substituem os trabalhadores mas não geram grandes ganhos de produtividade. Como exemplos dessas tecnologias, ele cita os caixas de autoatendimento em supermercados e o serviço ao cliente automatizado por telefone.
Acemoglu não está sozinho. Paul Romer, ganhador do Nobel de Economia por seu trabalho em inovação tecnológica e crescimento econômico, expressou preocupação com o poder de mercado desenfreado e a influência das grandes empresas de tecnologia.
ERA DE OURO. Economistas apontam os anos do pós-guerra, de 1950 a 1980, como uma era de ouro, quando a tecnologia avançou e os trabalhadores receberam salários maiores.
Mas, depois disso, muitos trabalhadores começaram a ficar para trás. Houve um avanço contínuo das tecnologias de automação – robôs e máquinas computadorizadas nas fábricas e softwares especializados nos escritórios. Para se manter atualizados, os trabalhadores precisavam de novas habilidades.
No entanto, a tecnologia evoluiu enquanto o crescimento da educação superior desacelerou e as empresas começaram a gastar menos com o treinamento de seus trabalhadores. “Quando tecnologia, educação e treinamento caminham juntos, você alcança prosperidade compartilhada”, disse Lawrence Katz, economista de Harvard. “Do contrário, isso não acontece.”
O aumento do comércio internacional incentivou empresas a adotar estratégias de automação. Preocupadas com a concorrência de baixo custo do Japão e, depois, da China, investiram em máquinas para substituir trabalhadores.
A próxima onda tecnológica é a inteligência artificial. E tanto Acemoglu como outros dizem que ela pode ser usada principalmente para auxiliar os trabalhadores, tornando-os mais produtivos, ou para tomar o lugar deles.
Por outro lado, tecnologias importantes criam novos empregos em elevam salários. Leis de oferta e demanda produziram tecnologias que ajudam as pessoas a fazerem seu trabalho em vez de substituílas. Na computação, os exemplos incluem bancos de dados, planilhas, mecanismos de pesquisa e assistentes digitais.
Acemoglu crê que o desenvolvimento da tecnologia deve ser orientado em uma direção mais “amigável”. “Precisamos direcionar a tecnologia para que ela funcione para as pessoas, e não contra elas”, disse.
Sem benefícios Para economista, desenvolvimento da tecnologia precisa ir numa direção mais ‘amigável’