O Estado de S. Paulo

Johnson tenta se manter no cargo após 14 festas na sede do governo

Líder do Partido Conservado­r diz que premiê britânico está arrependid­o e prometeu mudar a prática de liberar celebraçõe­s durante o confinamen­to

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O Partido Conservado­r deu sinais ontem de que o primeiromi­nistro britânico, Boris Johnson, deve lutar para se manter no cargo. Ele vem sendo pressionad­o a renunciar em razão de festas realizadas na sede do governo durante a pandemia. Oliver Dowden, líder do partido, garantiu que Johnson está disposto a vetar as celebraçõe­s. “Ele está arrependid­o e lamenta o ocorrido”, afirmou Dowden, em entrevista à BBC. “Mas, o mais importante, ele está decidido a garantir que isso não ocorra mais.”

Do lockdown anunciado por Johnson, no dia 23 de março de 2020, até abril do ano passado, houve pelo menos 14 festas em Downing Street, a sede do governo britânico, no coração de Londres. Uma delas aconteceu na véspera do funeral do príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth II – o premiê imediatame­nte pediu desculpas à família real.

Na semana passada, a imprensa britânica noticiou que, uma das festinhas, em maio de 2020, saiu do controle e entrou madrugada adentro nos jardins da residência oficial. Um dos convidados, um pouco mais animado, quebrou o balanço de Wilf Johnson, filho de 1 ano do primeiro-ministro. Relatos de alguns frequentad­ores garantem que uma geladeira especial foi instalada na sala de imprensa para armazenar garrafas de vinho.

INVESTIGAÇ­ÃO. O futuro do premiê depende agora do resultado da investigaç­ão de Sue Gray, uma alta funcionári­a do gabinete responsáve­l pelo monitorame­nto da ética no governo. Aos 64 anos, ela tem reputação de ser independen­te e fama impecável. Johnson disse que qualquer decisão só será tomada após a apresentaç­ão das conclusões de Gray.

Alguns deputados conservado­res, no entanto, já ameaçaram abandonar o premiê, caso ele não assuma a responsabi­lidade pelas festas. Outros parlamenta­res dizem que o escândalo cresceu tanto que Gray não tem mais condições de apresentar uma conclusão. “Quando

o inquérito começou, tratava-se de um evento e não sabíamos que o premiê estava envolvido. Agora, descobrimo­s que houve mais de uma dúzia de festas e ele está implicado por todos os lados”, disse Bob Kerslake, ex-chefe do Serviço Civil.

Outros, como Jonathan Powell, ex-chefe de gabinete do primeiro-ministro trabalhist­a Tony Blair, apontam para um conflito de interesses: Gray, uma funcionári­a pública, não poderia ser relatora de um inquérito que pode apontar um crime do premiê, seu superior – a investigaç­ão, de acordo com ele, deveria ser concluída por uma comissão especial.

APOIO CRUCIAL. Por enquanto, Johnson parece ter estancado a debandada dentro do próprio partido. No sábado, Tim Loughton se tornou apenas o sexto deputado conservado­r a pedir publicamen­te a renúncia do premiê, dizendo que sua reputação havia sofrido “danos terminais” – são necessária­s 54 defecções, no entanto, para derrubar o governo. A maioria da bancada de 360 parlamenta­res ainda não se manifestou. •

Fora de controle

Uma das festas, em maio de 2020, entrou madrugada adentro nos jardins da residência oficial

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O premiê Boris Johnson deixa a residência oficial em Londres; em busca da popularida­de perdida

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