O Estado de S. Paulo

Restaurant­es e bares de SP começam a pedir o passaporte da vacina

Pandemia do coronavíru­s Lei não obriga medida em estabeleci­mentos do setor; exigência é adotada por minoria, mas adesão cresceu nos últimos dias

- GILBERTO AMENDOLA

Com o avanço da variante Ômicron do coronavíru­s, alguns bares e restaurant­es na cidade de São Paulo começaram a adotar a exigência do comprovant­e de vacinação de seus clientes. Ainda não se trata de maioria expressiva dos estabeleci­mentos – que até o momento preferem adotar os procedimen­tos obrigatóri­os do Plano São Paulo de combate à covid-19, como o distanciam­ento das mesas, oferta de álcool em gel e o uso de máscaras.

Pela lei, o comprovant­e das duas doses da vacina na capital paulista não é obrigatóri­o neste setor. O passaporte deve ser exigido em festas, bailes e outros eventos semelhante­s em clubes e casas noturnas, independen­temente da lotação. O passaporte vacinal também é obrigatóri­o em shows, feiras, congressos, jogos e outras atividades da área de eventos.

O Drosophyla Bar, no centro, é um dos que passaram a exigir o comprovant­e da vacina para os seus clientes. A casa, inclusive, não deixa barato a ironia de alguns negacionis­tas em seu perfil no Instagram: “Kkk se a vacina impedisse a transmissã­o...!!!” escreveu uma seguidora do bar. “Não impede, não. Mas como tenho certeza que você sabe, a vacinação reduz a probabilid­ade de transmissã­o” respondeu a administra­dora do perfil da casa.

CINTO DE SEGURANÇA. “Ensaiei pedir (passaporte) ano passado. Já era algo que queria fazer. Estou feliz com os resultados. Na sexta passada, só 4% dos meus clientes estavam sem comprovant­e. Quem não estava voltou para casa”, diz Lilian Varella, proprietár­ia do Drosophyla. “Minha analogia é o cinto de segurança. Você não sabe se vai bater o carro, mas usar o cinto ajuda você a não morrer. Vacina pode não proteger 100%, mas ajuda a não morrer.”

Já o Cuia Café, na região central, começou a exigir o comprovant­e no sábado. A publicação nas redes sociais informando sobre a decisão da casa tinha mais de 2 mil curtidas ontem à tarde. Quase todas as manifestaç­ões são de apoio. Claro, ainda é possível encontrar reações como: “Ok, um direito do restaurant­e! Tem muitos em São Paulo que eu posso ir sem ter que apresentar nenhum documento. Obrigado”, rebateu um seguidor.

“Tomei essa decisão porque pessoas integralme­nte vacinadas tendem a ter menos carga viral, ainda que contaminad­as. E além de terem menos chance de desenvolve­r a doença em formas mais graves, contraem menos (o vírus) também, Pessoas não vacinadas são mais suscetívei­s ao vírus e alvos perfeitos para novas variantes’, diz Bel Coelho, proprietár­ia do Cuia Café.

“O propósito de um restaurant­e é alimentar e entreter e essa atividade é extremamen­te afetada na crise sanitária que vivemos. O que o setor puder fazer para diminuir a contaminaç­ão e fortalecer a luta contra a pandemia será bem-vindo. Vacinação é a arma mais eficaz que temos contra o vírus até o momento. Incentivál­a nos aproxima de um cenário socioeconô­mico mais favorável à sociedade como um todo”, completa Bel.

NOVA CLIENTELA. No comunicado do Borgo Mooca, a casa explica que o intuito é “proteger nossa família, as famílias dos nossos colaborado­res e cada um de vocês”. De novo, os mais de 600 comentário­s no Instagram da casa demonstrar­am apoio dos clientes. Além disso, tem quem, nos comentário­s da postagem, garanta que vai começar a frequentar a casa só por conta da iniciativa. “Parabéns. Ainda não conheço o restaurant­e, mas já tem todo o meu respeito”, disse uma seguidora. “Parabéns pela atitude e não se preocupem porque não vão perder clientes. Os alienados são minoria”, completou outra seguidora do perfil da casa no Instagram.

No restaurant­e Mescla, na Barra Funda, o anúncio também foi feito via Instagram. Lá, a maioria das reações são com emojis positivos (como palmas ou carinhas apaixonada­s). “Por essa atitude aí que eu fico mais fã desse restaurant­e”, comentou um cliente.

O Bar dos Arcos, no Theatro Municipal, no centro, e o bar Nu I Cru, na Casa das Caldeiras, na Água Branca, são exemplos dos que já há algum tempo cobram o comprovant­e. O Nu I Cru, aliás, vem exigindo este comprovant­e desde a abertura, em novembro.

A Associação Brasileira de Bares e Restaurant­es (Abrasel) não tem posicionam­ento fechado sobre as casas que exigem o passaporte. Isso porque, segundo a assessoria da entidade, o passaporte não é obrigatóri­o, mas uma escolha de cada estabeleci­mento.

Em outras cidades, como o Rio, o passaporte é cobrado para comer na área interna de restaurant­es. No Ceará, o comprovant­e de imunização para frequentar estabeleci­mentos do tipo é obrigatóri­o desde novembro. Já o presidente Jair Bolsonaro é crítico da estratégia, apontada por especialis­tas como importante para reduzir o risco de contágio. •

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Cuia Café, na região central, é um dos estabeleci­mentos que cobram a comprovaçã­o desde sábado

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