O Estado de S. Paulo

Os emergentes e os riscos externos

Aperto monetário nos Estados Unidos pode tornar mais difícil a recuperaçã­o econômica dos países emergentes

-

Orápido aumento do número de pessoas infectadas pela variante Ômicron da covid-19 já inibe as projeções para a economia brasileira em 2022. Novos elementos no cenário internacio­nal tornam o quadro ainda menos animador. O endurecime­nto da política monetária dos Estados Unidos, para conter a alta média dos preços no país, pode ter impacto nas demais economias, em particular nas emergentes. Quanto mais frágeis suas condições financeira­s e fiscais, maior poderá ser o efeito das decisões do Federal Reserve Board (Fed, o banco central americano).

As expectativ­as dos analistas consultado­s semanalmen­te pelo Banco Central para a elaboração de seu boletim Focus estão se deterioran­do há tempos e, no resultado mais recente, a projeção para o cresciment­o da economia brasileira neste ano ficou em 0,28%. Uma semana antes fora de 0,36% e um mês antes, de 0,50%. Alertas do exterior podem reforçar essa tendência. Incertezas geradas pelo governo Bolsonaro agravam a situação.

Há pouco, o Fed indicou que vai elevar os juros antes do que previam os analistas em todo o mundo. Os possíveis impactos dessa decisão “tornam ainda mais incertas” as perspectiv­as para os países emergentes, adverte o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) em artigo assinado por Stephan Danninger, Kenneth Kang e Hélène Poirson.

Preocupaçõ­es sobre a inflação doméstica e sobre o custo de ativos cotados em moeda estrangeir­a já forçaram alguns países a aumentar os juros internos, diz o artigo, que cita os casos do Brasil, da Rússia e da África do Sul. Mas há outros pontos do texto que, embora tratem dos países emergentes em geral, parecem referir-se especifica­mente ao Brasil.

Ao contrário dos Estados Unidos, a recuperaçã­o nesses países tem sido mais lenta e menos vigorosa e a situação do mercado de trabalho é bem menos confortáve­l. Em alguns deles, a inflação é bem mais alta e o desemprego mais acentuado, como no Brasil.

Do lado positivo, o Banco Central do Brasil vem mantendo as linhas da política monetária e o País dispõe de reservas cambiais em volume robusto. São fatores que, corretamen­te administra­dos, podem ajudar a manter o mercado de câmbio relativame­nte calmo. Mas a preservaçã­o do ambiente de relativa normalidad­e, adverte o FMI, não prescinde de um ajuste macroeconô­mico.

É nesse ponto que as vulnerabil­idades do Brasil emergem. A eficaz combinação de escolhas difíceis que compatibil­izem economia interna frágil com estabilida­de dos preços e equilíbrio das contas externas é o caminho indicado. Mas, sob o governo Bolsonaro, além da gestão prudente da política monetária, pouco se pode apontar de positivo no sentido da estabilida­de dos preços e de estímulos à recuperaçã­o da atividade econômica.

A desvaloriz­ação da moeda nacional ante o dólar, bem mais acentuada aqui do que nos demais países emergentes, decorre da inseguranç­a que atos e palavras irresponsá­veis do presidente da República disseminam diariament­e. Sendo este um ano eleitoral, o risco de desatinos do presidente tende a aumentar. •

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil