Em ano de incertezas na economia, renda fixa deve trazer oportunidades
Cenário de juros altos e volatilidade fortalece ativos como títulos atrelados à inflação; mas, de acordo com os especialistas, há também diversas oportunidades de investimento na renda variável neste ano
Nos investimentos, uma das principais lições que 2021 deixou para este ano na renda fixa é que, sim, ela também pode ser volátil. Se, em janeiro do ano passado, a taxa básica de juros (Selic) estava em 2% ao ano, encerrou dezembro em 9,25%, na tentativa de controlar a inflação – que fechou o ano em 10,06%, o maior patamar desde 2015.
As elevações desses indicadores impactam diretamente na renda fixa, classe de investimentos formada por ativos com regras de remuneração definidas no momento da aplicação, sejam privadas ou públicas.
O reflexo dos indicadores é visto de forma negativa, se analisada a rentabilidade acumulada de títulos públicos. No caso do Tesouro IPCA+ 2045, por exemplo, a queda já é superior a 21,8%. Por outro lado, as expectativas para o rendimento de ativos atrelados ao CDB e à inflação nos próximos meses são atrativas para o investidor, por oferecer retornos que chegam a ultrapassar os dois dígitos.
De acordo com Odilon Costa, analista de renda fixa e crédito privado do BTG Pactual Digital, a retomada econômica que teve início com o abrandamento da pandemia causou impacto direto nas relações entre oferta e demanda de diferentes produtos.
A expectativa, segundo ele, é que a Selic chegue a 12% até o fim do primeiro trimestre de 2022. “Existe uma dispersão que pode gerar mais volatilidade, especialmente porque 2022 é ano de eleições presidenciais”, aponta.
Para Stefan Castro, sócio e gestor da AF Invest, a volatilidade reforça a importância da diversificação mesmo dentro de uma única classe.
“O investidor deve estar disposto aos riscos. Alguns títulos muito longos, por exemplo, podem ser ainda mais voláteis do que a Bolsa. Para evitar perdas, é essencial diversificar”, afirma.
Han Kim, responsável por investimentos na Azimut Brasil Wealth Management, destaca que o investidor deve ter atenção aos indicadores do Boletim Focus para o próximo ano. Segundo o relatório de 10 de janeiro, a projeção de Selic para 2022 é de 11,75% e o IPCA de 5,02% em 2022. Ele reforça que as projeções vislumbrando o próximo ano dependem de diferentes cenários, especialmente no que tange aos movimentos políticos.
CRÉDITO PRIVADO. Para Costa, 2022 deve ser um ano com fluxo comprador para crédito privado, como debêntures, certificado de recebíveis imobiliários (CRI) e certificado de recebíveis do agronegócio (CRA). Segundo o especialista do BTG, existe muita demanda por parte dos investidores e as empresas estão captando o máximo de recursos para alcançar resultados mais confortáveis.
Castro, da AF Invest, diz que os títulos de crédito privado rendendo a CDI, ou seja, pós-fixados, e títulos atrelados à inflação também são boas alternativas para entrar no radar do investidor.
A análise do risco deve ser a atenção principal, segundo Kim, da Azimut Brasil. “Dependendo do risco de crédito, o prêmio tende a ser maior, mas é preciso avaliar. Uma vez feita a análise, o investidor deve verificar o quanto ele está pagando acima do título público. Em alguns casos, existem títulos pagando melhor que o próprio título público do mesmo vencimento”, afirma.
Os especialistas alertam que o investidor não deve, necessariamente, alocar em renda fixa porque as taxas estão maiores, mas é essencial avaliar e respeitar o perfil do investidor e os objetivos.
“É difícil dizer se um ano vai ser o ano da ‘classe X’ ou não, porque existem muitas variáveis. Na renda fixa, existem dois efeitos que merecem atenção: carrego e marcação a mercado. Não dá para afirmar que 2022 é o ano da renda fixa, mas com certeza existem boas oportunidades nos dois mercados”, aponta Costa.
ALOCAÇÃO. O gestor da AF Invest projeta que 2022 deve criar mais alocação em renda fixa, especialmente comparado aos dois anos anteriores. “Tanto os investidores institucionais como pessoas físicas devem aumentar a participação na renda fixa por conta do melhor custo de oportunidade”, aponta Castro.
Fabrizio Gueratto, colunista do E-investidor, ressalta a estabilidade da renda fixa. “Em um momento em que a Bolsa se encontra em estado de grande volatilidade, é muito importante prezar pela segurança e estabilidade nos investimentos.” •