‘ESG será norma no futuro dos investimentos’
Executivo da EDP diz que essa realidade de sustentabilidade ainda não é tão presente no Brasil, mas será
Rotação de ativos
‘Se houver um bom preço para os nossos ativos, também estamos disponíveis para vender’
Presidente da EDP Brasil, assumiu o cargo em fevereiro de 2021; ingressou no grupo em 2007, como conselheiro
No mercado brasileiro há mais de 20 anos, a EDP Brasil (ENBR3) integra o grupo europeu Energias de Portugal. Atuando nas áreas de geração, transmissão e soluções em serviços de energia, a companhia vê a diversificação das matrizes energéticas e práticas do tripé ESG (ambiental, social e governança) como pilares e caminhos que o Brasil deve seguir.
João Marques da Cruz, presidente da EDP no Brasil, destaca a busca da empresa por fazer rotação de recursos com o intuito de criar valor e crescer. Esse processo foi exemplificado pela venda de três linhas de transmissão por R$ 1,32 bilhão em outubro do ano passado. Paralelamente, a empresa adquiriu a Celg-t, em leilão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Além das negociações, o executivo pontuou o investimento da empresa no complexo Monte Verde, usina fotovoltaica de larga escala, no Rio Grande do Norte. Há 16 anos integrando a carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), a EDP Brasil alcançou o primeiro lugar no ranking que destaca o trabalho ESG das empresas listadas na B3.
A empresa avançou no projeto de produção de energia solar em larga escala. Quais os objetivos de atuar nesse segmento e quais são os principais desafios?
A energia solar ainda é muito pouco representativa no Brasil. No futuro, o País deve ganhar usinas de grande escala (utility scale), que chegam a ocupar o espaço de 300 a 400 campos de futebol. Um exemplo é o complexo da EDP em Pereira Barreto (SP). Além disso, anunciamos o projeto Monte Verde Solar, no Rio Grande do Norte, que terá capacidade instalada de 209 MW. Neste ano, pretendemos lançar mais duas ou três usinas fotovoltaicas em que somos investidores em parceria com a EDP Renováveis. Além da geração em larga escala, existe a parte descentralizada, voltada para pessoas físicas e empresas. Nesse caso, os painéis solares ficam nas proximidades do estabelecimento. Nós estamos em ambos os negócios e pretendemos, nos dois modelos de geração de energia, passar de 50 MW para 1 GW até 2025.
Como a EDP registra e avalia informações internas de sustentabilidade e ESG?
Temos metas definidas para a dimensão ESG. Em todos os negócios que a empresa desenvolve, existe um atributo para uma pauta dentro do tripé. No negócio da distribuição, por exemplo, buscamos a diversidade, que seja étnica, de gênero. Não é uma pauta de cima para baixo, ela surge dentro de cada setor e time. Para a EDP, a governança é um pilar essencial. Somos uma empresa listada na Bolsa de São Paulo e, no setor elétrico, somos a empresa com mais pessoas físicas investindo. Isso mostra a confiança desses investidores nacionais. Nós temos uma governança robusta, que é a garantia de defesa dos interesses dos pequenos acionistas.
Como a empresa avalia a participação no Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3 por 16 anos?
Estar em um grupo como esse é cada vez mais importante para os investidores. Aqui no Brasil ainda não é norma, mas acredito que será no futuro. Em outros países, há fundos que não investem em empresas que não tenham compromisso com o ESG. Há também bancos que só dão empréstimos e investimentos para companhias com selos de sustentabilidade, são os chamados green bonds, termo para “empréstimo verde”.
Olhando para a relação entre o setor de energia e ESG, quais são os principais desafios?
O setor sofre diretamente com alterações climáticas. Por conta disso, precisa estar alerta à necessidade de atuar nesse domínio. O Brasil não tem mercado de carbono, ou seja, instituições emissoras de carbono precisam comprar certificados de carbono, que são emitidos por quem produz de forma limpa. Empresas do setor têm e devem continuar tendo boas relações com o governo e órgãos reguladores para propor medidas positivas, seja no sentido de implementação do mercado de carbono ou de incentivo ao hidrogênio verde.
O que os investidores podem esperar da EDP em 2022?
Nós trabalhamos com asset rotation (rotação de ativos), o que nos faz estar sempre disponíveis a ir ao mercado para comprar mais ativos e, se houver um bom preço para os nossos ativos, também estamos disponíveis para vender. No ano passado, vendemos três linhas de transmissão, mas acabamos 2021 com mais quilômetros do que o que tínhamos no começo do ano. Queremos crescer nossos ativos e fechar um ano sempre maiores e com mais qualidade do que começamos. •