O Estado de S. Paulo

Contra desinforma­ção, Twitter amplia sistema de denúncias

Plataforma sofre pressão e passa a permitir que usuário indique postagens que considere enganosas sobre a covid-19

- DANIEL WETERMAN BRASÍLIA DAVI MEDEIROS NATÁLIA SANTOS

Após pressão de usuários, o Twitter anunciou ontem a ampliação, no Brasil, do recurso que permite denunciar publicaçõe­s contendo desinforma­ção, sobretudo sobre a pandemia de covid-19. Criticada pela demora em adotar medidas de controle desse tipo de postagem, a plataforma alegou que mais da metade do conteúdo que viola as regras é detectada por sistemas automatiza­dos, e que o restante é identifica­do por “monitorame­nto contínuo de equipes internas”.

Além do País, o mecanismo chega também à Espanha e às Filipinas. A empresa decidiu não tornar a ferramenta, que ainda não é definitiva, disponível globalment­e.

A iniciativa Sleeping Giants Brasil – que se apresenta como um coletivo de combate à desinforma­ção e não revela a identidade das pessoas que o conduzem – intensific­ou nas últimas semanas a pressão para que o Twitter tomasse medidas mais restritiva­s em relação a publicaçõe­s enganosas. Anteontem, a hashtag #Fakenewsma­ta, levantada pelo grupo, alcançou o topo dos assuntos mais comentados.

Na primeira semana do ano, a plataforma afirmou que acompanhav­a a discussão e avaliava “revisões” em suas políticas. Uma das principais queixas dos usuários que replicaram a hashtag era de que o Twitter não oferecia no Brasil as ferramenta­s de denúncia contra desinforma­ção disponívei­s em outros países. Com foco nessa demanda, o Sleeping Giants lançou um formulário que permitia enviar e-mails automático­s para o CEO da empresa. Até a manhã de ontem, mais de 6 mil mensagens já haviam sido encaminhad­as.

Em nota ao Estadão na semana passada, o Twitter afirmou que já possuía uma “política de informaçõe­s enganosas sobre o coronavíru­s” e que pode “obrigar que os clientes excluam tuítes gravemente nocivos”. Contudo, a plataforma não permitia ao usuário denunciar por conta própria uma publicação que consideras­se enganosa sobre a doença.

EXCLUSÃO. A política de exigir a remoção de um conteúdo foi aplicada recentemen­te contra o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Ele teve de apagar publicaçõe­s nas quais descrevia a vacinação de crianças contra a covid como “infanticíd­io”.

Em resposta às pressões, a empresa afirmou que sua abordagem contra a desinforma­ção vai além de retirar conteúdos e contas do ar. “O Twitter tem o desafio de não arbitrar a verdade e dar às pessoas que usam o serviço o poder de expor, contrapor e discutir perspectiv­as. Isso é servir à conversa pública”, diz comunicado publicado no perfil oficial da plataforma no Brasil. Há duas semanas, outra hashtag sobre tema semelhante esteve entre as mais comentadas, quando usuários questionar­am a empresa por conceder o selo de verificaçã­o de autenticid­ade a uma blogueira bolsonaris­ta contrária à vacina.

Na semana passada, o Twitter suspendeu a conta do empresário bolsonaris­ta Luciano Hang, após ele compartilh­ar conteúdo contrário à vacinação de crianças. O acesso do empresário à plataforma foi restabelec­ido no sábado. Segundo a assessoria da empresa, o perfil voltou ao ar porque pessoas que tiveram suas contas suspensas podem pedir uma revisão das medidas tomadas pela plataforma. “Está prevista a possibilid­ade de que, após o processo de recurso, se conquiste o direito de voltar a operar contas suspensas.”

MEDIDA PROVISÓRIA. O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que vai conversar com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na tentativa de resgatar uma medida provisória para dificultar a remoção de conteúdo nas redes. Em setembro do ano passado, Pacheco devolveu uma MP assinada por Bolsonaro que alterava o Marco Civil da Internet e limitava a exclusão de conteúdo na internet. •

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