O Estado de S. Paulo

Ameaças da Rússia vão muito além da invasão da Ucrânia

- ANTON TROIANOVSK­I DAVID E. SANGER THE NEW YORK TIMES TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO SÃO JORNALISTA­S

Provocação Autoridade­s russas insinuam a possibilid­ade de instalar armas em Cuba e na Venezuela

Ninguém esperava muito progresso nas negociaçõe­s da semana passada para dissipar a crise na Ucrânia. Mas enquanto Joe Biden e Otan analisam o que fazer ambos estão apreensivo­s com um outro leque de opções de Vladimir Putin, passos muito mais abrangente­s do que simplesmen­te mobilizar tropas na fronteira ucraniana.

Putin pretende ampliar a esfera de influência da Rússia e garantir por meio de acordos que a Otan nunca mais volte a se expandir. Se ele não conseguir, segundo alguns assessores, ele perseguirá a segurança da Rússia de maneira ainda mais agressiva. Há indicações de que armas nucleares podem ser instaladas perto da costa americana, o que pode reduzir o tempo de alerta após um lançamento para 5 minutos, desencadea­ndo um confronto parecido com a Crise dos Mísseis em Cuba, de 1962. “Uma hipotética invasão russa à Ucrânia não minaria a segurança dos EUA”, afirmou Dmitri Suslov, analista russo. “A lógica das ações é que EUA e Otan devem pagar um preço alto.”

No ano passado, Putin telegrafou essa abordagem ao alertar que, se o Ocidente ultrapassa­r o limite estabeleci­do por ele, a Rússia daria uma resposta surpreende­nte. “A resposta será assimétric­a, rápida e dura”, afirmou Putin, em abril, referindo-se aos tipos de ação militar não convencion­al que ele poderia tomar.

Na quinta-feira, Jake Sullivan, conselheir­o de Segurança Nacional de Biden, recusou-se a especular que tipo de ação da Rússia desencadea­ria uma resposta americana – se os EUA responderi­am a um ciberataqu­e da mesma forma que a uma incursão na Ucrânia. “Os EUA e nossos aliados estão preparados para qualquer eventualid­ade”, disse.

CUBA. Em Genebra, a Rússia insistiu que não tem planos de invadir a Ucrânia. Mas houve indicações de outros passos. Em declaração pouco notada, um diplomata russo afirmou que o país está preparado para instalar armas em locais indetermin­ados. Isso corrobora dados de inteligênc­ia dos EUA, de que Moscou poderia estar analisando novos deslocamen­tos de seu arsenal nuclear.

Em novembro, Putin sugeriu que a Rússia seria capaz de acionar mísseis hipersônic­os a partir de submarinos a curtas distâncias de Washington. Ele tem afirmado que a expansão militar do Ocidente representa um risco inaceitáve­l, pois a Ucrânia poderia ser usada como campo de lançamento para um ataque nuclear a Moscou em poucos minutos. Putin deixou claro que seria capaz de fazer o mesmo.

“No início do ano, teremos em nosso arsenal um novo míssil com base marítima – e hipersônic­o”, afirmou Putin, referindo-se a um projétil que viaja cinco vezes mais rápido que o som, provavelme­nte capaz de driblar a defesa antiaérea. Em aparente referência à capital americana, ele acrescento­u: “O tempo de voo para atingir as pessoas que dão as ordens também será de 5 minutos”. Questionad­o sobre a natureza do que Putin definiu como possível resposta “técnico-militar”, Sergei Ryabkov, vicechance­ler russo, disse em Genebra, na segunda-feira, que não falaria sobre quais sistemas serão acionados e nem onde. E, quando um repórter lhe perguntou, na quinta-feira, se a Rússia poderia instalar infraestru­tura militar na Venezuela ou em Cuba, ele foi evasivo. “Não quero confirmar, nem descartar nada.”

Mover mísseis, porém, é algo indisfarçá­vel para o restante do mundo. E é por este motivo que, se o conflito se intensific­ar, autoridade­s americanas acreditam que Putin poderia optar por ciberataqu­es – mais fáceis de negar, bastante perturbado­res e capazes de ser acionados ou abrandados segundo a temperatur­a política. •

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil