Ameaças da Rússia vão muito além da invasão da Ucrânia
Provocação Autoridades russas insinuam a possibilidade de instalar armas em Cuba e na Venezuela
Ninguém esperava muito progresso nas negociações da semana passada para dissipar a crise na Ucrânia. Mas enquanto Joe Biden e Otan analisam o que fazer ambos estão apreensivos com um outro leque de opções de Vladimir Putin, passos muito mais abrangentes do que simplesmente mobilizar tropas na fronteira ucraniana.
Putin pretende ampliar a esfera de influência da Rússia e garantir por meio de acordos que a Otan nunca mais volte a se expandir. Se ele não conseguir, segundo alguns assessores, ele perseguirá a segurança da Rússia de maneira ainda mais agressiva. Há indicações de que armas nucleares podem ser instaladas perto da costa americana, o que pode reduzir o tempo de alerta após um lançamento para 5 minutos, desencadeando um confronto parecido com a Crise dos Mísseis em Cuba, de 1962. “Uma hipotética invasão russa à Ucrânia não minaria a segurança dos EUA”, afirmou Dmitri Suslov, analista russo. “A lógica das ações é que EUA e Otan devem pagar um preço alto.”
No ano passado, Putin telegrafou essa abordagem ao alertar que, se o Ocidente ultrapassar o limite estabelecido por ele, a Rússia daria uma resposta surpreendente. “A resposta será assimétrica, rápida e dura”, afirmou Putin, em abril, referindo-se aos tipos de ação militar não convencional que ele poderia tomar.
Na quinta-feira, Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional de Biden, recusou-se a especular que tipo de ação da Rússia desencadearia uma resposta americana – se os EUA responderiam a um ciberataque da mesma forma que a uma incursão na Ucrânia. “Os EUA e nossos aliados estão preparados para qualquer eventualidade”, disse.
CUBA. Em Genebra, a Rússia insistiu que não tem planos de invadir a Ucrânia. Mas houve indicações de outros passos. Em declaração pouco notada, um diplomata russo afirmou que o país está preparado para instalar armas em locais indeterminados. Isso corrobora dados de inteligência dos EUA, de que Moscou poderia estar analisando novos deslocamentos de seu arsenal nuclear.
Em novembro, Putin sugeriu que a Rússia seria capaz de acionar mísseis hipersônicos a partir de submarinos a curtas distâncias de Washington. Ele tem afirmado que a expansão militar do Ocidente representa um risco inaceitável, pois a Ucrânia poderia ser usada como campo de lançamento para um ataque nuclear a Moscou em poucos minutos. Putin deixou claro que seria capaz de fazer o mesmo.
“No início do ano, teremos em nosso arsenal um novo míssil com base marítima – e hipersônico”, afirmou Putin, referindo-se a um projétil que viaja cinco vezes mais rápido que o som, provavelmente capaz de driblar a defesa antiaérea. Em aparente referência à capital americana, ele acrescentou: “O tempo de voo para atingir as pessoas que dão as ordens também será de 5 minutos”. Questionado sobre a natureza do que Putin definiu como possível resposta “técnico-militar”, Sergei Ryabkov, vicechanceler russo, disse em Genebra, na segunda-feira, que não falaria sobre quais sistemas serão acionados e nem onde. E, quando um repórter lhe perguntou, na quinta-feira, se a Rússia poderia instalar infraestrutura militar na Venezuela ou em Cuba, ele foi evasivo. “Não quero confirmar, nem descartar nada.”
Mover mísseis, porém, é algo indisfarçável para o restante do mundo. E é por este motivo que, se o conflito se intensificar, autoridades americanas acreditam que Putin poderia optar por ciberataques – mais fáceis de negar, bastante perturbadores e capazes de ser acionados ou abrandados segundo a temperatura política. •