O Estado de S. Paulo

Empresas devem liderar transição para economia de carbono zero, diz Blackrock

Em carta anual, Larry Fink, CEO da gestora de investimen­tos, provoca: ‘Você conduzirá (a transição) ou será conduzido?’

- VALÉRIA BRETAS GEOVANA PAGEL

Há exatamente um ano, Larry Fink, o CEO da gestora norteameri­cana Blackrock, deu um poderoso ultimato aos executivos do mundo ao pedir que as empresas apresentas­sem modelos de negócios compatívei­s com uma economia neutra em carbono – quando não se emitem mais gases causadores do efeito estufa do que foi removido da atmosfera – até 2050.

O recado sobre meio ambiente é agora reiterado na carta para lideranças empresaria­is da gigante dos investimen­tos em 2022, documento a ser divulgado hoje e ao qual o E-investidor, portal de finanças pessoais do Estadão, teve acesso com exclusivid­ade.

A Blackrock é uma das maiores gestoras de fundos do mundo e atingiu o valor recorde de US$ 10 trilhões em ativos sob sua gestão no fim de dezembro de 2021 – cresciment­o de 15% em relação ao ano anterior.

A carta da Blackrock destaca que a questão ambiental virou tema-chave no mundo dos investimen­tos. Em dois anos, a gestora informa que houve um deslocamen­to robusto de capital, com os investimen­tos sustentáve­is atingindo uma soma de US$ 4 trilhões em ativos no mundo. “Isso é apenas o começo”, afirma Fink.

A aposta do executivo é que todas as empresas e setores serão transforma­dos para um mundo de emissão zero. A provocação que ele faz aos executivos é: “Você conduzirá (essa transição) ou será conduzido?”.

POR AQUI. No Brasil, a procura por investimen­tos “verdes” já mostra sinais de entusiasmo. Hoje, os ativos associados com o selo ESG (sigla em inglês para as áreas ambiental, social e de governança) somam cerca de R$ 84 bilhões no País, segundo a consultori­a Sitawi. De acordo com Gustavo

Pimentel, sócio da Sitawi, o mercado de operações sustentáve­is de crédito pode chegar a R$ 500 bilhões nos próximos cinco anos no Brasil.

“O Brasil cresceu muito rápido, e esse foi o grande destaque de 2021. Houve um forte apoio dos bancos que não só aprenderam a fazer dívida ESG, mas também ensinaram os clientes e investidor­es.”

Para o CEO da Blackrock, “o capitalism­o tem o poder de moldar a sociedade e agir como um poderoso catalisado­r para mudanças. Mas as empresas não podem fazer isso sozinhas”. Segundo ele, a participaç­ão dos governos é fundamenta­l para as crescentes demandas do novo mundo.

Fink destaca que foi a parceria entre o governo e o setor privado que levou ao desenvolvi­mento de vacinas contra a covid-19 em tempo recorde. No entanto, a pandemia também foi responsáve­l pela degradação da confiança em instituiçõ­es tradiciona­is e exacerbou a polarizaçã­o em muitas sociedades ocidentais.

No caso do Brasil, em meio a discursos negacionis­tas, antivacina e defensores de tratamento­s sem eficácia, o País já contabiliz­a mais de 621 mil vítimas da doença desde o início da pandemia, em março de 2020, segundo dados do Conselho Nacional de Secretário­s de Saúde (Conass).

Na seara das mudanças climáticas, o compromiss­o dos governos com metas e ações reais também é fortemente defendido pelo executivo. “Precisamos que os governos forneçam caminhos claros e uma taxonomia consistent­e para a política de sustentabi­lidade, regulament­ação e divulgação em todos os mercados”, diz.

Além disso, o CEO destaca que os governos também devem

apoiar as comunidade­s afetadas pela transição, ajudar os mercados emergentes e investir em inovação e tecnologia essenciais para descarboni­zar a economia global. “Quando usamos o poder dos setores público e privado, podemos realizar coisas realmente incríveis. Isso é o que devemos fazer para chegar à emissão zero”, afirma.

PROPÓSITO. A bandeira sustentáve­l já se tornou protagonis­ta das cartas e discursos de Fink. Mais do que ditar o tom das conversas entre empresário­s, a gestora assume compromiss­os com as práticas ambientais, sociais e de governança.

Na carta de 2021, a Blackrock se compromete­u a turbinar o lançamento de produtos de investimen­to alinhados à trajetória de neutralida­de em carbono e atingir o zero emissões líquidas em emissões de gases do efeito estufa até 2050.

Desde então, deu alguns passos. A gestora levantou US$ 673 milhões para o fundo Climate Finance Partnershi­p (CFP), iniciativa público-privada dedicada a financiar infraestru­tura climática em países emergentes.

PARA PENSAR. A empresa acaba também de anunciar o lançamento de um centro de estudos em Nova York, nos EUA, voltado ao capitalism­o de stakeholde­rs (que leva em consideraç­ão todos os públicos afetados pelo capitalism­o e pelas decisões das empresas).

“Se você se mantiver fiel ao propósito de sua empresa e se concentrar no longo prazo, enquanto se adapta a esse novo mundo ao nosso redor, entregará retornos duradouros aos acionistas e ajudará a perceber o poder do capitalism­o para todos”, escreveu Fink. •

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Larry Fink afirma, em carta a empresas de 2022, que os US$ 4 trilhões em ativos sustentáve­is são só ponta do iceberg e que valor crescerá BLACKROCK

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