O Estado de S. Paulo

Ex-ministros criticam aliança do Planalto com o Centrão

Weintraub afirma que conservado­res foram ‘substituíd­os’ pelo bloco e Araújo diz que siglas pautam governo sobre relações com a China

- DAVI MEDEIROS

Os ex-ministros Abraham Weintraub, da Educação, e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, criticaram a aliança do presidente Jair Bolsonaro (PL) com parlamenta­res do Centrão. Ambos apontaram, em live realizada anteontem, que o chefe do Executivo se afastou das pautas ideológica­s que o elegeram.

Segundo Weintraub, o presidente teria “substituíd­o” a ala conservado­ra do Executivo federal por integrante­s do Centrão. Já Araújo, que deixou o cargo de chanceler em março do ano passado, afirmou que perdeu poder quando Bolsonaro começou a se aproximar do bloco – de acordo com ele, o Centrão passou a pautar a governo conforme interesses da China, impedindo que o então chanceler levasse adiante seu projeto “transforma­dor” de política externa. “Quando o Centrão começou a dominar o governo, fui cada vez mais isolado”, disse Araújo.

Em sua gestão, Araújo foi frequentem­ente criticado por ofender e criar atritos com os chineses, um dos principais parceiros comerciais do Brasil. O ex-chanceler mencionou a cultura da China, que, na avaliação dele, o Centrão tenta perpetuar no Brasil. Para ele, Pequim representa o oposto dos valores defendidos por Bolsonaro, como a religião.

Araújo declarou que costuma se referir ao Partido Progressis­tas, conhecido pela sigla PP, de “Partido de Pequim”. E disse que os ministros Fábio Faria, das Comunicaçõ­es; Flávia Arruda, da Secretaria de Governo; e Ciro Nogueira, da Casa Civil, tentam transforma­r o País em uma “colônia chinesa”. “O Centrão acha que política externa é fazer tudo o que a China quer.”

Weintraub, por sua vez, afirmou que o bloco político encabeçado pelo Progressis­tas representa um “obstáculo” à pauta ideológica do bolsonaris­mo. Os conservado­res, segundo ele, passaram a sofrer ataques desde que foram substituíd­os “pela turma do Centrão”.

MALAFAIA. O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, saiu em defesa do presidente e argumentou que Bolsonaro não teria governabil­idade se não cedesse ao bloco. Principal entrevista­do da live dos ex-ministros, Malafaia citou trechos bíblicos para justificar a ação do presidente, que, segundo ele, sofreria um impeachmen­t se não fizesse alianças com “sabedoria”.

Como mostrou o Estadão, o apoio do Centrão não é garantido a Bolsonaro nas eleições. O bloco político deve se opor a candidatos bolsonaris­tas em ao menos cinco Estados – um deles é São Paulo. •

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