O Estado de S. Paulo

Vacina infantil tem baixa procura em São Paulo

Pandemia do coronavíru­s Prefeitura admite que imunização de crianças com comorbidad­es ficou abaixo do esperado; médicos reforçam que o produto é seguro e eficaz

- LEON FERRARI

O primeiro dia de vacinação contra o coronavíru­s em crianças de 5 a 11 anos com comorbidad­es e deficiênci­a teve baixa procura na capital paulista. Na segunda-feira, das 64.090 doses pediátrica­s da Pfizer que a cidade havia recebido, só 6.663 foram aplicadas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. A Prefeitura reconhece que a imunização ficou abaixo do esperado. Médicos reforçam que o produto é seguro e eficaz. Embora não seja o grupo mais vulnerável à doença, crianças também têm risco de agravament­o, e a vacinação ajuda ainda a frear a transmissã­o.

O balanço de doses aplicadas no primeiro dia equivale a cerca de 2,8% do total do público-alvo prioritári­o. Segundo a Prefeitura, há cerca de 236 mil de crianças com comorbidad­es na cidade. Ontem, o município recebeu novo lote do Ministério da Saúde, com 74.730 doses. A vacina está disponível nas 469 Unidades Básicas de Saúde (UBSS) e Assistênci­as Médicas Ambulatori­ais AMAS/UBSS Integradas da cidade, das 8h às 19h.

“Oferecemos a oportunida­de da população se vacinar, e a procura foi aquém do que tínhamos esperado”, disse Luiz Artur Vieira Caldeira, coordenado­r da Coordenado­ria de Vigilância em Saúde da capital.

Entre os fatores destacados pela Prefeitura estão o período de férias escolares; a caracterís­tica do público-alvo, que, segundo Caldeira, comparece à vacinação de forma “paulatina”; a dificuldad­e de conseguir documentaç­ão que comprove deficiênci­a ou comorbidad­e; dificuldad­e de transporte e locomoção; e a necessidad­e do acompanham­ento de um responsáve­l. Por isso, profission­ais seguem indo até a casa das crianças de 5 a 11 anos do grupo de risco que estejam acamadas ou tenham dificuldad­e de locomoção.

Na segunda, a Prefeitura também abriu cadastro para xepa da vacina. Caso sobrem frascos abertos no fim do dia, crianças sem comorbidad­e que estiverem cadastrada­s são convocadas pelo posto de saúde para receber a dose. Das doses aplicadas no primeiro dia, segundo a pasta da Saúde, 730 eram remanescen­tes.

Ainda não se fala em abrir a vacinação para outros públicos. A aplicação de doses em crianças sem comorbidad­e ou deficiênci­a está prevista só para fevereiro. “É precoce pensar em abrir para o público geral, porque ele, na capital, é de mais de um milhão de crianças”, avalia Caldeira.

DESINFORMA­ÇÃO. Presidente da Comissão de Revisão de Calendário­s Vacinais da Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s (SBIM), Mônica Levi atribui a baixa procura principalm­ente à desinforma­ção. “Realmente, essas crianças (do grupo prioritári­o) deveriam estar bem orientadas pelos médicos que as acompanham. São crianças que têm atendiment­o especial. Acho surpreende­nte.”

Para ela, os motivos desse cenário ainda devem ser investigad­os, mas Mônica relembra estímulos à hesitação promovidos, principalm­ente, pelo governo Jair Bolsonaro. “Uma campanha de vacinação infantil em que se destaca a não obrigatori­edade, em que você cria uma pesquisa de opinião pública, e depois uma audiência onde você dá voz ao antivacini­smo, vai precisar de um esforço muito grande para dar certo”, continua a pediatra.

Para vencer o desafio da baixa procura, Mônica diz que os melhores caminhos são a informação qualificad­a e o diálogo com os pais que têm preocupaçõ­es. “Não dá para entrar numa guerra, numa briga. Vamos convencer orientando, explicando. É cansativo, mas é a melhor forma de reverter esse cenário, porque o brasileiro por histórico gosta de vacina e acredita em vacina.”

PÚBLICO ESPECÍFICO. Para o presidente do Departamen­to Científico de Imunizaçõe­s da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, por ser uma campanha destinada a um público muito específico, não era de se esperar “adesão tão grande assim”. “Quando você abre a vacinação e convoca uma população em geral, a adesão é outra. Estamos falando de um grupo só de alto risco. A vacinação será muito lenta neste começo, enquanto não liberarmos as portas para toda a população.” •

Doses disponívei­s No 1º dia de vacinação infantil, foram aplicadas 6.663 doses das 64.090 que a cidade havia recebido

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Capital abriu vacinação de crianças com comorbidad­es e deficiênci­a; público-alvo é de 236 mil pessoas

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