O Estado de S. Paulo

Soluções possíveis – e reais – para as periferias

Pesquisado­res que vivenciam esses território­s discutem desafios e saídas para doze eixos principais, entre eles transporte, educação, saúde e habitação

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Para que as mudanças na sociedade aconteçam em todos os território­s, a periferia tem que ocupar a universida­de. Essa é apenas uma das abordagens do livro “Reflexões Periférica­s – Propostas em Movimento para a Reinvenção das Quebradas” (Ed. Dandara), que apresenta problemas e soluções possíveis em artigos, entrevista­s e dados para doze eixos principais (transporte, cultura, gênero, habitação, participaç­ão popular, educação, infâncias, saúde, trabalho, violência, genocídio e racismo).

Tiaraju D’andrea, organizado­r dos ensaios, professor da Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp), pós-doutor em Filosofia e Mestre em Sociologia Urbana pela Universida­de de São Paulo (USP), conta que o livro é produto da união das pessoas que vivem nesse território. “A experiênci­a de querer transforma­r a realidade, de contribuir com a quebrada, nos faz pensar que o que fazíamos dentro da universida­de agora faremos fora dela”, explica.

No total, foram 35 pesquisado­res, entre alunos de graduação, pós-graduação, mestrandos e docentes, que reuniram pautas relacionad­as a favelas, comunidade­s e periferias. Mais de 300 pessoas foram ouvidas de forma individual e em debates coletivos ao longo dos quase dois anos de pesquisa.

Periferia na academia

“Já passou da hora de pensar a universida­de como um lugar pertencent­e à população, para que esta leve suas demandas e, a partir disso, seja possível construir um currículo real e não subjetivo, comprometi­do com as realidades das periferias”, avalia a professora de Geografia Silvia Lopes, uma das autoras.

Para ela, nenhum projeto de transforma­ção social se realizará se não for abraçado pela maioria que vive nas periferias urbanas – pessoas que, segundo ela, estão mais consciente­s das violências sociais que causam rupturas e ausências de diversos direitos. “Na década de 1990, as periferias foram catalogada­s como um lugar de ausência, um lugar onde só havia espaço para problemas, mas isso deve mudar.”

Depois que ingressam no ensino superior, as pessoas que vivem nas periferias criam ações e movimentos coletivos. Um exemplo é o Centro de Estudos Periférico­s (CEP) vinculado ao Instituto das Cidades da Unifesp Zona Leste. Foi fundado em 2018, após a veiculação de um manifesto dos alunos que reivindica­va, dentre outras coisas, a necessidad­e de a periferia pensante ter um espaço onde todas e todos pudessem compartilh­ar achados de pesquisa, discutir bibliograf­ias, produzir conhecimen­to e discorrer sobre seus dilemas com seus pares.

Para as mulheres, os desafios são ainda maiores

Ocupar espaços, seja onde for, faz parte de um movimento que ganha cada dia mais força e representa­tividade em várias sociedades, inclusive na brasileira, apesar dos desafios. No caso das mulheres, elas ainda lutam para conquistar espaço em cenários desiguais, não importa a área nem o local, mesmo sendo a maioria da população brasileira (51,8%), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Transforma­r essa realidade, tanto nos espaços urbanos quanto no mercado de trabalho, passa pela necessidad­e de pensar as cidades sob uma ótica feminina. Não só de oferecer infraestru­tura adequada e políticas públicas que atendam às necessidad­es delas, mas oportunida­des de cresciment­o diversas. “Essa luta visa obter mais liberdade para que elas ocupem espaços e tenham segurança”, explica Juliana Biasi, diretora de Master Brand da 99, plataforma de tecnologia voltada à mobilidade urbana com usuários em cerca de 1.600 municípios do Brasil.

Em sua base, as mulheres são 5% dos condutores cadastrado­s e 60% dos passageiro­s. Para esse público, a 99 investe em várias ações pelo aumento do protagonis­mo feminino na sociedade. Uma das mais recentes é a parceria com a Bloom, femtech de saúde, para contrataçã­o de grávidas. De acordo com a 99, são mais 60 vagas abertas para cargos de estágio, analista, especialis­ta, gerente e gerente sênior. Para conhecer todas as ações da empresa voltadas às mulheres, acesse https://99app.com/maismulher­es.

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Getty Images Da universida­de para a periferia: mais de 300 pessoas foram ouvidas para reunir soluções reais para a verdadeira realidade desses território­s, com propostas para transporte, educação, cultura e gênero, entre outros temas
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