O Estado de S. Paulo

Transporte pesado no centro da eletrifica­ção

Como os ônibus e caminhões movidos a bateria trazem vantagens a um meio ambiente mais limpo

- POR MÁRIO SÉRGIO VENDITTI

Pense no ar-condiciona­do que você liga para refrescar o calor em dias terrivelme­nte quentes. Ou no abajur sobre a mesinha de cabeceira para ler um livro deitado na cama. Ou até mesmo na cafeteira ligada na tomada para preparar o café em poucos minutos. “Desde sempre, a eletricida­de facilita nossas vidas numa infinidade de ‘veículos’. Ela só não fazia parte do transporte de pessoas de uma maneira mais contundent­e”, raciocina Ricardo Guggisberg, presidente do Instituto Brasileiro de Mobilidade Sustentáve­l (IBMS).

Agora faz. Os veículos sobre rodas movidos a bateria estão mudando a maneira como vemos a mobilidade urbana. “Entre os inúmeros benefícios, eles vão acabar com a poluição das grandes cidades e gerar economia para o setor de logística das empresas”, diz Guggisberg, que também é curador do canal Planeta Elétrico, do portal Mobilidade.

Para ele, o motor a combustão terá sobrevida pela frente, mas será cada vez menos usado. “Todas as opções de propulsão estarão disponívei­s nas prateleira­s e caberá ao usuário decidir. Mas, quando a bateria de um carro elétrico oferecer 2 mil quilômetro­s de autonomia, ele não vai querer mais automóveis com motor a gasolina ou etanol”, acredita. “Quando as baterias atingirem essa capacidade, até os híbridos ficarão obsoletos.”

Há uma década, o preço do quilowatt-hora de um veículo elétrico era de US$ 1.000. Atualmente, ele sai por US$ 100. “A redução progressiv­a do custo e do peso da bateria deixará os veículos elétricos mais viáveis ao comprador. É uma questão de tempo”, salienta.

Além de favorecer a evolução da eletromobi­lidade, no Brasil, de maneira ampla, o desenvolvi­mento das baterias ajudará a microbilid­ade. Para o especialis­ta, em percursos menores, as pessoas deixarão de lado o transporte público em prol, por exemplo, da bicicleta elétrica. “As cidades devem repensar o gasto de subsídios para manter o transporte público como é hoje”, defende.

Guggisberg prevê que a mobilidade elétrica mudará a percepção da sociedade, a começar pelo nível de poluição e ruído nas ruas. “O único barulho que ouviremos será o do atrito dos pneus no asfalto”, completa.

BENEFÍCIOS ADJACENTES

Guggisberg questiona o subsídio dado ao transporte público, mas ele, também, está inserido nos estudos da mobilidade elétrica. “Atualmente, o País tem cerca de 100 ônibus elétricos rodando nas ruas, mas o potencial de cresciment­o é gigantesco”, ressalta Ieda de Oliveira, diretora comercial da Eletra, empresa fabricante de ônibus elétricos (de rede aérea e bateria) e híbridos, e curadora do canal Planeta Elétrico, do portal Mobilidade.

O potencial é amparado pela Lei Municipal 16.802, da cidade de São Paulo, promulgada em janeiro de 2018. Ela determina o corte de 100% das emissões de dióxido de carbono (CO2) da frota de ônibus de São Paulo em 20 anos e de 50% em dez. “Estamos falando de uma frota de 14 mil ônibus, que deverá ser toda elétrica”, revela.

O campo fértil de cresciment­o envolve o transporte de carga, uma vez que o segmento de logística foi um dos que mais cresceram durante a pandemia. “Grandes companhias assumiram o compromiss­o da emissão de poluentes”, afirma. A Ambev, por exemplo, já opera com 1.500 elétricos em sua frota.

Os esforços na questão ambiental são tão grandes que a Eletra vem se dedicando também a fazer retrofit de caminhões, transforma­ndo a motorizaçã­o deles de diesel para elétrica. “São veículos pequenos, de 3,5 toneladas de carga até os de 54”, afirma. São caminhões que trabalham dentro de empresas, como as mineradora­s, ou que fazem o transporte urbano. “Não faz sentido, ao menos por enquanto, um caminhão elétrico viajar do Rio Grande do Sul ao Ceará”, completa.

Para Ieda de Oliveira, o maior benefício é atingir a meta de zero emissão. A conta chama atenção: um ônibus despeja, na atmosfera, 2,64 quilos de CO2 a cada litro de diesel consumido. Em média, cada ônibus roda 200 quilômetro­s por dia, na cidade, gastando, aproximada­mente, 1,4 km/l de diesel. Ou seja, diariament­e, cada veículo joga no ar quase 377 quilos de CO2.

Além do ar mais limpo, a eletrifica­ção dos ônibus traz benefícios adjacentes, segundo Oliveira. “Quase não existe ruído nas ruas, proporcion­ando uma sensação de bem-estar; os veículos elétricos preservam o patrimônio histórico, porque tiram o material particulad­o da atmosfera, que destrói as edificaçõe­s; e aumenta o conforto dos passageiro­s, pois a velocidade e a frenagem são mais estáveis”, enumera.

 ?? ??
 ?? ?? Hoje, o Brasil tem apenas 100 ônibus elétricos rodando nas ruas, mas o potencial de cresciment­o é enorme. Só em São Paulo, a frota é de 14 mil ônibus, que poderão ser movidos a bateria
Hoje, o Brasil tem apenas 100 ônibus elétricos rodando nas ruas, mas o potencial de cresciment­o é enorme. Só em São Paulo, a frota é de 14 mil ônibus, que poderão ser movidos a bateria
 ?? ?? Não perca a nossa live, todas as quartas, às 11h, pelas redes sociais do Estadão ou no portal
Mobilidade
Não perca a nossa live, todas as quartas, às 11h, pelas redes sociais do Estadão ou no portal Mobilidade
 ?? ?? Acesse Compartilh­e
Marque os
amigos
Acesse Compartilh­e Marque os amigos
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil