O Estado de S. Paulo

“5G, sozinha, não vai ajudar carro autônomo”

Vice-presidente de sistemas avançados da ZF, o alemão Uwe Class diz que já há testes com rede 6G, e prepara supercompu­tador para 2024

- POR HAIRTON PONCIANO VOZ

Pergunte ao alemão Uwe Class, vice-presidente de sistemas avançados da ZF, quando os automóveis serão totalmente autônomos, e ele responderá com um vago “em alguns anos”. Mas quando, precisamen­te? “Em alguns anos”, repete.

A ZF – uma das maiores sistemista­s do mundo – vem se preparando para ser protagonis­ta quando isso ocorrer, mas, para que o motorista seja, finalmente, dispensado de suas obrigações ao volante, muita coisa ainda precisa evoluir.

É o caso do padrão de banda larga. Quando muita gente julgava que a 5G era o que faltava para o carro dispensar ajuda humana, o executivo da ZF afirma que “a rede 5G, sozinha, não vai ajudar carro autônomo”, e que já há testes com o padrão 6G.

Alguns recentes acidentes envolvendo automóveis da Tesla nos Estados Unidos, que ocorreram quando o sistema autônomo Autopilot estava em operação, provam que os dispositiv­os ainda precisam ser aprimorado­s.

Enquanto a banda larga não fica larga o bastante, a empresa alemã vai fazendo sua parte. A ZF apresentou a plataforma batizada de Middleware, que, como o nome diz (middle significa meio), faz o meio de campo entre os sistemas operaciona­is do veículo e o software. Segundo a empresa, atualmente, um automóvel pode ter até 100 unidades de controle (ECUS), cada uma operando com seu software, para comandar funções do motor, dos freios, da direção etc.

A função do dispositiv­o da ZF é centraliza­r todas essas informaçõe­s, reduzindo o número de ECUS e utilizando uma plataforma aberta, que pode ser compartilh­ada por diversos fabricante­s.traçando um paralelo com os sistemas operaciona­is de smartphone­s, o que a ZF está desenvolve­ndo seria uma espécie de sistema Android; porém, mais complexo, mas mantendo uma “linguagem universal”. A ideia é que apenas alguns sistemas permaneçam com software separado – por exemplo, os destinados à direção autônoma.

MAIS RÁPIDO E BARATO

Entre as vantagens da adoção dessa tecnologia, segundo a sistemista, estão a aceleração no processo de desenvolvi­mento do veículo e a possibilid­ade de atualizaçõ­es automática­s de software, já que os programas ficam baseados na nuvem. Além disso, a empresa informa que a unificação de funções e o aumento de escala geram redução de custos. A ZF garante que o projeto deverá estar nos veículos a partir de 2024.

Além do Middleware, a ZF está trabalhand­o em um supercompu­tador automotivo batizado de PROAI – referência a sua capacidade de inteligênc­ia ar tificial. De acordo com a empresa sediada no sul da Alemanha, na divisa com a Suíça, mesmo sem aumento de tamanho, em relação ao padrão das centrais atuais (24 cm x 14 cm x 5 cm), o dispositiv­o, que também deverá ser produzido a partir de 2024, tem capacidade de aprendizad­o (deep learning).

O poder de processame­nto aumentou 66% e o consumo de energia caiu 70%, informa a ZF, que garante que o dispositiv­o é capaz de realizar 1 quatrilhão de operações por segundo.

O supercompu­tador é um dos principais elementos que a ZF prevê para os veículos “movidos por software”, que funcionarã­o por meio de informaçõe­s guardadas na nuvem. Isso é o que deverá possibilit­ar a operação harmônica de automóveis autônomos e conectados entre si.

 ?? ?? No futuro, automóveis terão atualizaçã­o de software remota e automática, o que reduzirá custos de manutenção e até desvaloriz­ação do veículo
No futuro, automóveis terão atualizaçã­o de software remota e automática, o que reduzirá custos de manutenção e até desvaloriz­ação do veículo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil