O Estado de S. Paulo

A menina mais bonita do colégio

- Alice Ferraz É ESPECIALIS­TA EM MARKETING DE INFLUÊNCIA E ESCRITORA, AUTORA DE ‘MODA À BRASILEIRA’

Ela sabia que era irmã da menina mais bonita do colégio. Tinham 4 anos de diferença e eram inseparáve­is, dormiam no mesmo quarto, tomavam banho no mesmo horário, iam para escola juntas às 7 da manhã, depois para aula de balé clássico e para o clube. Era ainda bem pequena quando entendeu que, além de mais bonita, a irmã mais velha era inteligent­e e escrevia cartas com palavras interessan­tes no Dia das Mães. Suas habilidade­s par a escrita foram comprovada­s no dia que ganhou o prêmio de poesia do colégio em que ambas estudavam e essa lembrança a inspirou e a fez descobrir um amor pelas palavras que duraria uma vida.

Ser irmã da menina mais popular do colégio tinha inúmeros privilégio­s e ela era beneficiad­a por cada um deles. Nos dias de frio, quando tinha esquecido sua malha, ia até a classe da irmã e era p r o nt a mente agasalhada. Quando tinha alguma nota baixa, era lá também que tinha aconchego para sua tristeza e, quando um menino, a os 10 a nos, a per t ou seu bumbum em plena escada da oitava s éri e (perdoem, mas, sim, ela estudou quando ainda se chamava oitava série), teve em sua pronta defesa o namorado da irmã, que só poderia ser o menino mais forte e popular do colégio. Na apresentaç­ão do tradiciona­l balé clássico, ela foi convidada a se apresentar vestida de pé de feijão enquanto a irmã foi a princesa do conto de fadas.

Essa crônica parece de uma triste menina feia, mas não é. A pé de feijão se via uma graça, ela amava sua posição e sua relação com a irmã e, por mais estranho que possa parecer, nunca se viu menor, só tinha exata noção que eram diferentes. Ser a mais bonita tinha lá também suas cobranças e a irmã mais bonita acordava todo di a mais cedo para escolher o look, fazer uma touca e deixar o cabelo lisinho, lisinho para seus fãs matinais. A caçula, para dormir minutos a mais, ia para cama vestida de uniforme, que não era obrigatóri­o, mas muito confortáve­l. Seguiram juntas pela vida, amigas e cúmplices tendo aprendido já na infância sobre a reação do mundo com relação a beleza ou a falta dela. •

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JULIANA AZEVEDO
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