Lula em seu labirinto
Como bem mostra a sucessão de declarações impensadas que anda fazendo à mídia, Lula vem lidando mal com as contradições de sua candidatura.
Há meses, vinha apostando que a vitória na disputa presidencial lhe cairia no colo, como simples decorrência da aversão visceral que boa parte do eleitorado não petista tem por Jair Bolsonaro. Aos poucos, contudo, Lula vem se dando conta de que, afinal, a eleição pode não lhe ser tão fácil. Sua vitória, hoje, parece mais incerta do que parecia no início do ano.
Lula e o PT continuam assombrados pelo passado. Até se dispõem a falar dele. Mas não sobre o que de fato importa. Não querem dar explicações ao País. Sobretudo sobre um tema interditado: o descarrilamento da economia perpetrado pela presidente Dilma Rousseff.
Para que possam anunciar um programa econômico que faça sentido, Lula e o PT precisam, primeiro, desenvolver uma narrativa aceitável sobre o que ocorreu no desastroso mandato e meio de Dilma. Mas passados já seis anos desde o sinistro, o PT ainda não conseguiu sair da fase de incontida revolta contra tudo o que tenha remotamente a ver com a equipe econômica do governo Temer que, a partir de 2016, teve de providenciar a operação de resgate que se fez necessária para lidar com o descalabro com que se deparou.
Essa incapacidade do PT de reconhecer as reais proporções das dificuldades fiscais com que, desde então, o País teve de lidar vem impedindo que o partido desenvolva uma proposta consequente sobre o principal desafio que terá de ser enfrentado pelo próximo presidente: construir uma saída ordenada do entalo fiscal para, aos poucos, abrir espaço no Orçamento para políticas públicas desatendidas.
O que terão Lula e o PT a dizer sobre isso? Agora já se sabe: nada! Arvorando-se em Pai da Pátria, acima do bem e do mal, Lula acaba de se declarar, com todas as letras, dispensado de dar satisfações ao eleitorado sobre a política econômica que adotaria caso viesse a ser eleito. Não poderia ter sido mais claro em sua entrevista à revista Time: “Eu sou o único candidato cuja política econômica não deveria preocupar as pessoas, porque eu já fui presidente duas vezes. Nós não discutimos política econômica antes de ganhar as eleições. Em primeiro lugar, você tem de ganhar as eleições”.
A isso chegamos. Ao eleitor, aturdido, só resta indagar se quem lhe ousa pedir esse cheque em branco é o Lula do primeiro mandato, o Lula da nova matriz econômica ou o Lula eufórico que promoveu a calamitosa eleição de Dilma Rousseff. •
Candidato declara-se dispensado de delinear sua política econômica até ser eleito