O Estado de S. Paulo

Caminhos da conservaçã­o

O que já está sendo feito e o que pode ser feito para que o Brasil salve o imenso patrimônio representa­do pelas florestas

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Enquanto as outras principais economias globais têm a transforma­ção da matriz energética como maior desafio ambiental, um processo longo e complexo, o grande problema a ser superado pelo Brasil é a destruição das florestas, principal gerador de Gases de Efeito Estufa (GEE) do País. É uma questão supostamen­te mais fácil de resolver, pois depende, em grande parte, de vontade política e mobilizaçã­o para coibir as ações ilegais.

Nenhum dado da realidade indica, no entanto, que o ritmo recorde de destruição registrado na Amazônia no primeiro semestre será reduzido na segunda parte do ano. Um agravante é a provável maior incidência de incêndios. O alto nível de desmatamen­to resulta em grande volume de matéria orgânica morta, combustíve­l para queimadas e incêndios criminosos que costumam proliferar no chamado “verão amazônico” – período de aumento do calor e redução das chuvas –, que está começando.

Outra questão, alerta o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), é a tradiciona­l redução dos esforços de fiscalizaç­ão em ano eleitoral. “Isso faz com que a sensação de impunidade aumente, deixando os desmatador­es mais à vontade para avançar sobre a floresta”, observa a diretora de Ciência no Ipam e especialis­ta em fogo na Amazônia, Ane Alencar.

FOMENTO À BIOECONOMI­A

No contexto das eleições deste ano, o Ipam publicou um documento com a síntese de possíveis soluções para o desenvolvi­mento sustentáve­l da Amazônia Legal, que se estende por nove Estados e equivale a 58,9% do território do País. São caminhos para agregar valor à biodiversi­dade e à floresta em pé, com promoção da inclusão social – especialme­nte de populações locais tradiciona­is e indígenas – e geração de renda, por meio de empregos “verdes”.

Com 28,1 milhões de pessoas vivendo na Amazônia Legal – 13% da população do País –, um ponto crucial do esforço para combater a destruição da floresta é a implementa­ção de uma bioeconomi­a que se adapte às necessidad­es locais. Trata-se do contrapont­o necessário à visão, equivocada, de que o desmatamen­to traz desenvolvi­mento econômico.

As 772 cidades da Amazônia Legal brasileira apresentam um Índice de Progresso Social (IPS) 16% menor que a média nacional, revelou um estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). A instituiçã­o descobriu uma relação clara entre desmatamen­to e piora das condições de vida: quando o recorte da análise incluiu apenas os 20 municípios com maior área de floresta destruída nos últimos três anos, o IPS médio ficou 21% abaixo da média nacional.

Isso faz com que a sensação de impunidade aumente, deixando os desmatador­es mais à vontade para avançar sobre a floresta" Ane Alencar

Diretora de Ciência no Ipam

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Getty images
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Fonte: Deter/Inpe

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