Liberdade, um bem maior
Tudo na vida tem seu preço, e o da liberdade, um dos bens mais preciosos, pode ser alto. Os europeus se preparam para um inverno com escassez de gás. Os americanos sofrem com a pressão inflacionária. O presidente Joe Biden, que enfrenta os republicanos nas urnas nesse cenário adverso, teve de visitar a Arábia Saudita, que havia prometido transformar em pária.
Nada disso, claro, é remotamente comparável ao que os ucranianos estão sofrendo, no front dessa luta pela liberdade. Mas, nos últimos dias, o equilíbrio de forças voltou a se mover em favor dos ucranianos, graças à chegada de armas mais sofisticadas. Esse êxito, por sua vez, reanima as democracias no Ocidente e na ÁsiaPacífico a renovar seu compromisso com a resistência ucraniana à agressão russa.
A Gazprom forneceu para a Europa em junho pouco mais de um terço do gás que entregava no início de 2021. No dia 16 de junho, a estatal russa reduziu em 40% o gás transportado pelo NordStream 1 (NS1). O corte, segundo a empresa, é temporário, em razão de problemas de manutenção, que são reais. O que não se sabe é se o fornecimento será normalizado, ou se foi um pretexto para estrangular ainda mais a Europa.
Os tanques europeus estão com 60% de sua capacidade de armazenamento de gás preenchida. Há um ano, estavam com 50%. A meta é chegar a novembro com 80%. O eventual fechamento do NS1 pela Rússia pode dificultar o cumprimento dessa meta. O ministro da Economia e vice-chanceler alemão, Robert Habeck, advertiu: “A paz social na Alemanha está sendo desafiada”.
A União Europeia foi o destino de 74% das exportações russas de gás em 2021 e de 47% de petróleo. As exportações de gás representam apenas 2% do PIB russo, em comparação com 10%, no caso do petróleo. A Europa, por sua vez, era bem mais dependente do gás russo – 45% de suas importações – do que do petróleo – 25%.
A logística do petróleo, transportado em navios, é mais simples que a do gás, que requer gasodutos ou usinas de gaseificação. A Rússia conseguiu desviar para a China e a Índia parte do petróleo antes destinado à Europa. É por isso que o ponto focal da pressão de Putin contra a Europa é o gás.
Já para os EUA, o aumento do preço do petróleo é o principal problema. Por isso, Biden teve de recuar em seu propósito de esfriar as relações com a Arábia Saudita por causa de suas violações aos direitos humanos e ir ao encontro do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman (MBS). Biden precisa que os sauditas, líderes da Opep, aceitem aumentara produção de petróleo para reduzir apressão dos preços.
Na Ucrânia, ao menos 20 ataques usando o Sistema de Foguete de Artilharia de Alta Mobilidade, enviado pelos EUA, destruíram alvos-chave dos russos, como paióis de munição e postos de comando. As ações são parte de contraofensivas sobretudo no sul do país, mas também no leste. À medida que armamentos sofisticadoscontinuarem chegando, os russos terão mais dificuldade de avançarem antersu as posições. Isso mantém acesa a esperançados que consideram a liberdade um bem maior que o conforto material.
À medida que mais armas sofisticadas chegarem, os russos terão mais dificuldade de avançar