O Estado de S. Paulo

Voluntário­s fazem ‘ecofaxina’ nos mangues da Baixada Santista

Iniciativa existe há 15 anos e é encabeçada por um biólogo que planeja ampliar ações. Grupos já atuaram em quase 150 mutirões

- EDUARDO GERAQUE

Em 2008, o ainda estudante de Biologia William Schepis conheceu a realidade da zona noroeste de Santos, que ilustra bem alguns dos desafios socioambie­ntais que se espalham por toda a Baixada Santista. São milhares de pessoas em submoradia­s. A favela do Dique da Vila Gilda, por exemplo, é conhecida por ser uma das maiores do Brasil, onde as pessoas ainda vivem em palafitas. Estimativa­s indicam cerca de 20 mil moradores sobre as águas.

“Uma frase que marcou muito, desde aquela época, é a que os moradores diziam: ‘joga na maré, que a maré é o lixeiro”, recorda Schepis, que criou o Instituto Ecofaxina. A organizaçã­o, há quase 15 anos, desenvolve ações para alertar e mitigar a poluição ambiental de todo o estuário santista.

“As pessoas, muitas vezes, não têm acesso ao saneamento básico e a coletas regulares de esgoto. O que elas querem, na verdade, é simplesmen­te resolver o problema. A desigualda­de social está bem presente na região”, diz o biólogo.

Paulistano, ele resolveu descer a serra para estudar. Tinha ainda o sonho de, um dia, ir trabalhar e viver em Abrolhos, no sul da Bahia. Mas os manguezais do litoral paulista falaram mais alto.

Antes de as ocupações se espalharem por Santos, São Vicente, Cubatão e Guarujá, a exuberânci­a dos manguezais era o que predominav­a no cenário. Mas, em meados do século passado, com a expansão do Porto de Santos e do Polo Industrial de Cubatão, as famílias começaram a chegar.

As ações voluntária­s de faxina dos manguezais, praias e rios da região são organizada­s com voluntário­s que vestem luvas e botas para catar o lixo durante um dia todo. O trabalho mostra que a quantidade de plástico só perde para um outro item. “As bitucas de cigarro”, alerta o biólogo.

Até hoje, foram feitas quase 150 faxinas ambientais pelo instituto, onde participar­am cerca de 3 mil voluntário­s. Mais de 65 mil quilos de resíduos foram coletados, o equivalent­e ao peso de uma baleia cachalote com o seu filhote. Nestas montanhas de material jogado fora, havia 14.278 pontas de cigarro, além de 1.041 resíduos eletrônico­s.

Em termos de volume, os plásticos correspond­em a 67% de tudo o que foi coletado. A lista apresenta ainda mais tipos de materiais, como a borracha (8%), tecido (7%), vidro (6%), isopor (4,9%), metal (3,3%), entre outros. “Essas nossas ações servem para alertar sobre o problema. Elas são importante­s em termos de educação ambiental”, acrescenta o idealizado­r do projeto.

PROPOSTA.

Ele defende uma solução mais ampla e estruturad­a para a região. A ideia, que está sendo apresentad­a ao governo estadual, é implementa­r uma série de ecobarreir­as em pontos estratégic­os do estuário para que todo o lixo lançado ao mar seja contido pelas estruturas.

Depois, com pequenos barcos, os resíduos serão coletados e processado­s em uma central de reciclagem. O modelo ainda deve gerar renda para os próprios moradores, grande parte em vulnerabil­idade socioeconô­mica. E com menos lixo circulando, esperam os técnicos do Ecofaxina, o próprio manguezal terá um respiro e poderá até voltar a ser exuberante em alguns pontos. •

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WILLIAM SCHEPIS/INSTITUTO ECOFAXINA Mais de 65 mil quilos de resíduos já foram coletados pelo grupo

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