‘A Amazônia precisa de uma lei própria’
Além da conscientização dos proprietários de que a floresta vale mais em pé, outra providência importante para que essa área seja salva é a adaptação do Código Florestal às diferentes realidades regionais. “Não faz sentido aplicar as mesmas regras desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul. Comparar rios que têm margens praticamente fixas com outros que apresentam quilômetros de mobilidade”, exemplifica Mario Mantovani, presidente da Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo. Geógrafo e especialista em recursos hídricos, ele assumiu o cargo no início do ano, depois de 30 anos de atuação na Fundação SOS Mata Atlântica.
Mantovani defende a criação da Lei do Bioma Amazônico, com o propósito de estabelecer diretrizes específicas para as atividades de exploração e uso da biodiversidade no bioma. Desenvolvida por um grupo de políticos e ambientalistas do qual ele faz parte, a proposta é inspirada na Lei da Mata Atlântica, estabelecida em 2006, depois de uma grande mobilização liderada pela Fundação SOS Mata Atlântica. “A lei foi criada com a preocupação de diferenciar as características da Mata Atlântica em cada um dos 17 Estados em que ela está presente, já que entender as especificidades é essencial para a conservação. A Amazônia também precisa de uma lei própria”, ele compara.
Com uma vida inteira dedicada às causas ambientais, Mantovani pode ser considerado um “curupira da vida real”. Apesar da sucessão de más notícias para as florestas brasileiras, ele considera que ainda é possível enxergar o cenário com otimismo. “O que estamos enfrentando no Brasil em termos ambientais são, principalmente, as consequências de circunstâncias desfavoráveis, que podem mudar em breve. Em vários outros pontos, quando se olha mais a longo prazo, a evolução tem sido muito positiva, incluindo a mobilização da sociedade civil, a conscientização da iniciativa privada e o avanço dos recursos proporcionados pela tecnologia.”