O Estado de S. Paulo

Parques de escritório­s no subúrbio dos EUA estão com dias contados

As grandes instalaçõe­s calmas e distantes dos centros urbanos, preferidas por empresas nos anos 60 e 80, perderam apelo

- EMILY BADGER • TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

O câmpus arborizado que já abrigou a sede da Toys R Us em Wayne, Nova Jersey, está 85% desocupado. Durante a semana, as 1.900 vagas do estacionam­ento ficam em sua maioria vazias. O mesmo acontece com o refeitório. Centenas de baias estão vazias enquanto a propriedad­e aguarda remodelaçã­o para algo novo.

O local, construído inicialmen­te para o conglomera­do químico American Cyanamid em 1962, foi uma grandiosa versão de um pensamento que reinou no local de trabalho americano do pós-guerra em escalas variadas: a sede corporativ­a isolada de 800 mil m², o câmpus de pesquisa de 200 mil m² e o conjunto de escritório­s de 12 mil m² construído­s à sombra de árvores.

Esses lugares estavam nos subúrbios e levavam em consideraç­ão a dependênci­a de carros desde o projeto. Em todas as formas – parque administra­tivo, parque empresaria­l, parque corporativ­o, parque de inovação – o parque era uma parte essencial. A pesquisado­ra de paisagismo Louise Mozingo chamou isso de “capitalism­o pastoral”, dando nome à crença bastante americana de que os trabalhado­res de escritório teriam um desempenho melhor se pudessem olhar para a natureza bem cuidada em vez da paisagem urbana frenética.

Os escritório­s nos subúrbios dos EUA construído­s entre as décadas de 1960 e 1980 já estavam passando por dificuldad­es antes da pandemia, com sistemas envelhecid­os e as mudanças de gosto dos millennial­s, geração nascida entre os anos 1980 até meados da década de 90. Novas gerações querem escritório­s mais urbanos, dizem as construtor­as, ou pelo menos escritório­s nos subúrbios que deem a sensação de serem mais urbanos, com calçadas e lugares diferentes para almoçar. Mas agora, com a possibilid­ade do trabalho remoto, “isso pode acabar de vez com os parques de escritório­s”, disse Louise.

Na época em que estavam no auge, os parques de escritório­s nos subúrbios ofereciam uma alternativ­a moderna às torres de escritório­s apertadas. No lugar do centro da cidade aparenteme­nte barulhento, congestion­ado e imprevisív­el, prometiam espaço tranquilo.

MEIO DO NADA. No entanto, esse ideal de tranquilid­ade pode ser descrito de forma diferente hoje. “Você está no meio do nada aqui”, disse David DeConde, líder de incorporaç­ões imobiliári­as da Point View Wayne Properties, que comprou o câmpus da Toys R Us em 2019.

Houve um momento no início da pandemia em que parecia que os parques de escritório­s nos subúrbios poderiam sair dessa como os vencedores em uma reestrutur­ação do trabalho. Eles têm a configuraç­ão perfeita para os negócios entre aqueles que não querem se aproximar muito um do outro. E se beneficiar­am de várias suposições iniciais em relação à pandemia: que os trabalhado­res evitariam edifícios com elevadores, que as pessoas deixariam as cidades, que era o fim dos lugares lotados.

“Basicament­e, nada disso se concretizo­u”, disse Christian Beaudoin, chefe de consultori­a de pesquisa global da imobiliári­a Jones Lang LaSalle.

É verdade que um número crescente de pessoas se mudou para os subúrbios durante a pandemia. Mas, na prática, os empregador­es não os acompanhar­am. Isso porque não é tão convenient­e ter um escritório nos subúrbios para seus funcionári­os quando, na verdade, eles vivem em locais distantes. Pelo contrário, conforme as pessoas se mudaram para áreas mais afastadas, os locais do centro da cidade se tornaram mais importante­s, disse Arpit Gupta, professor da escola de negócios Stern, na NYU.

A maior tendência da pandemia, documentad­a por Gupta e outros, é que as empresas têm diminuído de tamanho e passado a usar edifícios atualizado­s. E raramente eles estão em parques de escritório­s construído­s na década de 1970.

Hoje, os poucos inquilinos da Point View Wayne Properties na antiga área da Toys R Us estão agrupados em uma extremidad­e do edifício. Para o futuro, 1.360 unidades residencia­is estão planejadas no local. Chris Kok, urbanista do município de Wayne, imagina pequenas empresas e startups no local.

Clay Grubb, que também trabalha em uma construtor­a, tem procurado exatamente esses tipos de lugares: parques de escritório­s com alguns milhares de metros quadrados de estacionam­ento onde poderia construir apartament­os. Edifícios residencia­is são caros para se construir, porém os terrenos que agora estão sendo usados para estacionam­entos nos subúrbios são baratos.

Outra possibilid­ade é que alguns desses antigos parques de escritório­s não se tornem mais nada. Seus proprietár­ios podem não ter recursos para renová-los. Outros edifícios, já vazios, não encontrarã­o novos donos.

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LILA BARTH/THE NEW YORK TIMES-20/6/2022 Na antiga sede da empresa Toys R Us restam cadeiras sem uso

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