Mentoria leva capital intelectual a startups
Programas de aceleração apostam na orientação de empresas que desejam aliar propósito com o financeiro
Alta da inflação, demissões em massa nas startups e crise global formam um cenário desafiador para empresas que buscam capital financeiro. Quando se fala dos negócios de impacto socioambiental, a complexidade pode aumentar ainda mais, principalmente se não houver uma boa preparação para aliar propósito e sustentabilidade financeira. Nesse sentido, programas de aceleração oferecem outro tipo de investimento tão valioso quanto: o capital intelectual.
As iniciativas oferecem mentoria, promovem conexões, testam soluções de forma segura e possibilitam a captação de investimento. Na mentoria, profissionais mais experientes avaliam e orientam de acordo com a necessidade de cada empreendimento. Olham desde a parte financeira, marketing e comunicação até questões inerentes ao empreendedorismo de impacto, como tese de mudança, métricas para medir o impacto e como apresentar o potencial do negócio para o mercado e potenciais investidores.
Pesquisas atestam o valor desses projetos. O relatório A aceleração funciona?, lançado no Brasil pela Global Accelerator Learning Initiative e Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE), aponta que empresas aceleradas aumentaram as receitas, o número de funcionários e receberam investimento externo com valores maiores.
“Muitas vezes, o que vai destravar a empresa para outro patamar é o conhecimento, não capital”, avalia o presidente e sócio-fundador da 7Stars Ventures, Daniel Abbud. “Se não tem capital intelectual para operar a companhia, quanto mais dinheiro receber, mais vai gastar, e é um pecado pôr dinheiro em companhia que não tem maturidade para lidar com esse recurso.”
Ao perceber que precisava de uma base sólida para avançar com o negócio, o presidente da Toti, Caio Rodrigues, buscou esse suporte. A empresa que capacita refugiados e migrantes em tecnologia e os conecta com o mercado de trabalho nasceu de um projeto na faculdade, com prazo para encerrar. “Depois que começou a rodar a primeira turma, vimos que tinha potencial”, diz ele.
Veterano dos programas de aceleração, o empreendedor recebeu apoio em fases distintas da companhia. “Quando a Toti começou a ganhar corpo e sair dos muros da faculdade, sentimos necessidade de mais conhecimento, ampliar rede, ouvir a opinião de mais pessoas para apoiar no desenvolvimento da ideia.”
Em 2020, a Toti foi selecionada para o InovAtiva de Impacto Socioambiental, uma política pública gratuita voltada à aceleração de startups com propostas de impacto. Naquele momento, já estruturada, a empresa ia ao mercado para vender os serviços. “A gente estava se conectando com parceiros para entender e definir qual seria o melhor serviço. Contamos com o apoio de diferentes pessoas, que falaram o que seria interessante adicionar de benefício aqui ou o que não tinha tanta aderência.”
Rodrigues afirma que, lá na faculdade, a proposta não era ser um negócio de impacto, mas toda a mentoria e conexões possibilitadas pelas acelerações ajudaram a transformar o projeto em empresa.
ACELERAÇÃO DE NICHO. Ter programas de aceleração focados nos negócios de impacto também é uma demanda dos empreendedores desse nicho. “Eles têm uma dor grande de como combinar o propósito do negócio, a transformação social e ambiental, com a parte financeira”, diz Ana Hoffman, coordenadora do InovAtiva de Impacto Socioambiental.