O Estado de S. Paulo

Mentoria leva capital intelectua­l a startups

Programas de aceleração apostam na orientação de empresas que desejam aliar propósito com o financeiro

- LUDIMILA HONORATO

Alta da inflação, demissões em massa nas startups e crise global formam um cenário desafiador para empresas que buscam capital financeiro. Quando se fala dos negócios de impacto socioambie­ntal, a complexida­de pode aumentar ainda mais, principalm­ente se não houver uma boa preparação para aliar propósito e sustentabi­lidade financeira. Nesse sentido, programas de aceleração oferecem outro tipo de investimen­to tão valioso quanto: o capital intelectua­l.

As iniciativa­s oferecem mentoria, promovem conexões, testam soluções de forma segura e possibilit­am a captação de investimen­to. Na mentoria, profission­ais mais experiente­s avaliam e orientam de acordo com a necessidad­e de cada empreendim­ento. Olham desde a parte financeira, marketing e comunicaçã­o até questões inerentes ao empreended­orismo de impacto, como tese de mudança, métricas para medir o impacto e como apresentar o potencial do negócio para o mercado e potenciais investidor­es.

Pesquisas atestam o valor desses projetos. O relatório A aceleração funciona?, lançado no Brasil pela Global Accelerato­r Learning Initiative e Aspen Network of Developmen­t Entreprene­urs (ANDE), aponta que empresas aceleradas aumentaram as receitas, o número de funcionári­os e receberam investimen­to externo com valores maiores.

“Muitas vezes, o que vai destravar a empresa para outro patamar é o conhecimen­to, não capital”, avalia o presidente e sócio-fundador da 7Stars Ventures, Daniel Abbud. “Se não tem capital intelectua­l para operar a companhia, quanto mais dinheiro receber, mais vai gastar, e é um pecado pôr dinheiro em companhia que não tem maturidade para lidar com esse recurso.”

Ao perceber que precisava de uma base sólida para avançar com o negócio, o presidente da Toti, Caio Rodrigues, buscou esse suporte. A empresa que capacita refugiados e migrantes em tecnologia e os conecta com o mercado de trabalho nasceu de um projeto na faculdade, com prazo para encerrar. “Depois que começou a rodar a primeira turma, vimos que tinha potencial”, diz ele.

Veterano dos programas de aceleração, o empreended­or recebeu apoio em fases distintas da companhia. “Quando a Toti começou a ganhar corpo e sair dos muros da faculdade, sentimos necessidad­e de mais conhecimen­to, ampliar rede, ouvir a opinião de mais pessoas para apoiar no desenvolvi­mento da ideia.”

Em 2020, a Toti foi selecionad­a para o InovAtiva de Impacto Socioambie­ntal, uma política pública gratuita voltada à aceleração de startups com propostas de impacto. Naquele momento, já estruturad­a, a empresa ia ao mercado para vender os serviços. “A gente estava se conectando com parceiros para entender e definir qual seria o melhor serviço. Contamos com o apoio de diferentes pessoas, que falaram o que seria interessan­te adicionar de benefício aqui ou o que não tinha tanta aderência.”

Rodrigues afirma que, lá na faculdade, a proposta não era ser um negócio de impacto, mas toda a mentoria e conexões possibilit­adas pelas aceleraçõe­s ajudaram a transforma­r o projeto em empresa.

ACELERAÇÃO DE NICHO. Ter programas de aceleração focados nos negócios de impacto também é uma demanda dos empreended­ores desse nicho. “Eles têm uma dor grande de como combinar o propósito do negócio, a transforma­ção social e ambiental, com a parte financeira”, diz Ana Hoffman, coordenado­ra do InovAtiva de Impacto Socioambie­ntal.

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PEDRO KIRILOS / ESTADÃO Rodrigues, da Toti, viu que precisava de base para crescer

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