Médicos alertam que enfarte pode atingir jovens e atletas
Caso do empresário João Paulo Diniz desperta debate de cuidados com a saúde do coração e a prática de exercícios
A morte do empresário João Paulo Diniz, de 58 anos, que tinha um histórico de atleta e de prática de exercícios físicos, fez ressurgir o debate sobre a necessidade de reforço na prevenção de doenças cardiovasculares por meio de exames periódicos e especializados. Médicos consultados pelo Estadão alertam para a realização de controles mesmo entre pessoas que apresentem aparente boa condição física, como era o caso do filho do investidor Abilio Diniz.
A causa do óbito do empresário não foi oficialmente confirmada, mas a principal hipótese é a de que ele tenha sofrido um enfarte horas depois de ter feito exercícios físicos no último domingo, no Rio. Especialistas ressaltam que a morte súbita pode ocorrer pela existência de patologias cardíacas assintomáticas.
“Alguns corações são aparentemente saudáveis”, argumenta Taline Costa, especialista em medicina esportiva. “A pessoa não tem manifestação clínica de nenhuma doença, o que faz parecer (que o coração é) saudável. Então, quando alguém estressa o coração com exercício de alta intensidade isso se torna um gatilho para algumas arritmias cardíacas que podem ser fatais”, explica a especialista.
Por isso, segundo ela, as avaliações médicas são fundamentais para detectar alterações e impedir que as pessoas coloquem s vida em risco ao sobrecarregar o coração em atividades físicas. “Não é que o exercício faz mal para o coração, mas sim que o coração não está pronto para determinada carga, seja por alguma patologia ou por não estar preparado o suficiente”, afirma a médica.
PATOLOGIAS. O enfarte é a morte do músculo cardíaco, também chamado de miocárdio, provocada pela obstrução da coronária, a artéria que nutre o músculo do coração com oxigênio, algo vital para seu funcionamento. Em atividades físicas (momento em que há aumento de demanda por oxigênio), se o miocárdio não é abastecido porque a coronária está parcialmente obstruída, o músculo do órgão bate de forma descompassada (arritmia).
Se essas batidas forem fortes, o órgão pode parar de funcionar de forma repentina e provocar morte súbita. “Quando obstrui totalmente, a pessoa enfarta”, diz Caroline Reigada, médica intensiva e nefrologista do Hospital Oswaldo Cruz. Uma das causas de óbitos desse tipo é a cardiomiopatia hipertrófica, “que geralmente acomete jogadores de futebol jovens que morrem de ataque fulminante durante o exercício”, explica a médica.
Sugestões
Especialistas recomendam exames para avaliar saúde do coração antes da prática de esportes
Caroline afirma que a cardiomiopatia hipertrófica é uma condição clínica genética, que pode passar despercebida até a fase adulta. “O coração é um órgão muito musculoso. Se você continuar fazendo exercício, o miocárdio vai exigir mais oxigênio. Dependendo da intensidade desse exercício, o coração pode não aguentar”, diz Caroline.
A cardiomiopatia hipertrófica é também chamada de hipertrofia do miocárdio. Este foi o termo que Abilio Diniz usou em livro publicado em 2004 ao se referir a uma complicação cardíaca que fora detectada no filho anos antes. “Ele teve diagnosticada uma hipertrofia do miocárdio. Trata-se de uma doença congênita no coração que costuma matar atletas. No caso do João Paulo, foi recomendado que não praticasse mais nenhum tipo de esporte. Nada. Nem atravessar a rua correndo ele podia, sob pena de morrer de um ataque fulminante”, escreveu.
PREVENÇÃO. Os especialistas afirmam que pessoas com mais de 40 anos devem fazer um check-up anual para verificar a saúde do coração com exames como eletrocardiograma, teste ergométrico e ecocardiograma. Eles alertam ainda que atletas e esportistas também devem fazer avaliações antes da prática esportiva. E fumantes, diabéticos e hipertensos – ou pacientes renais crônicos – devem ter atenção redobrada com o coração. •