Autistas ganham os estádios e lutam por inclusão
Grupo de torcedores corintianos forma a primeira torcida somente com pessoas diagnosticadas com TEA
“A gente quer ser conhecido mesmo como a torcida da inclusão, que possa organizar projetos e encontros inclusivos. Se todos se unirem nessa causa, os autistas vão ter mais acessibilidade aos estádios para poderem se sentir mais confortáveis” Juliana Prado, criadora dos Autistas Alvinegros
Quando faz o caminho de volta da Neo Química Arena para casa, Juliana Prado, 30 anos, geralmente está exausta, tanto que precisa se isolar em algum canto e ouvir uma música tranquila para recuperar as energias depois de apoiar o Corinthians. No estádio, ela se mistura à multidão, canta, sofre e “joga” com o time.
Juliana tem um grau leve de autismo, por isso a exposição em um estádio tende a ser mais desgastante, mas a paixão dela pelo futebol é maior. O sentimento a faz frequentar a arena corintiana, levando uma grande faixa na qual está escrito “Autistas Alvinegros”.
Os Autistas Alvinegros não são uma torcida organizada. Eles se definem como um movimento de inclusão social. Há um grupo de Whatsapp com cerca de 140 participantes, entre pessoas com autismo, familiares de autistas e psicólogos, além de um perfil recém-criado no Instagram com mais de 2 mil seguidores. “A gente quer ser conhecido mesmo como a torcida da inclusão, que possa organizar projetos e encontros inclusivos”, explica Juliana, funcionária do setor administrativo dos Correios.
INICIATIVA.
“Essa faixa abriu o caminho”, diz Rafael Souza Lopes. O auxiliar de expedição, de 35 anos, fundou o movimento com Juliana há pouco mais de três meses, em 2 de abril, Dia Mundial da Conscientização do Autismo, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2007.
Os dois torcedores se descobriram autistas tardiamente. Ela aos 29 e ele aos 33. “Existem razões pelas quais os indivíduos podem não ter recebido diagnóstico de autismo quando crianças. Uma é que os critérios mudaram. Além disso, a conscientização sobre o autismo costumava ser menos difundida e muitos indivíduos que atualmente atendem aos critérios podem não ter sido avaliados quando crianças”, explica André Cavallini, médico da Clínica Gravital, que atende pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A lista é curta, mas há clubes preocupados com seus torcedores autistas. Na Neo Química Arena existe um espaço destinado a acomodar corintianos com TEA. Situada no setor Oeste Superior, a sala tem paredes e janelas com isolamento de som, bem como atividades desenvolvidas para autistas e pessoas com deficiência intelectual.
Outros espaços para autistas são encontrados no Couto Pereira, do Coritiba, e nos Aflitos, do Náutico. •