O Estado de S. Paulo

Autistas ganham os estádios e lutam por inclusão

Grupo de torcedores corintiano­s forma a primeira torcida somente com pessoas diagnostic­adas com TEA

- BRUNO ACCORSI RICARDO MAGATTI

“A gente quer ser conhecido mesmo como a torcida da inclusão, que possa organizar projetos e encontros inclusivos. Se todos se unirem nessa causa, os autistas vão ter mais acessibili­dade aos estádios para poderem se sentir mais confortáve­is” Juliana Prado, criadora dos Autistas Alvinegros

Quando faz o caminho de volta da Neo Química Arena para casa, Juliana Prado, 30 anos, geralmente está exausta, tanto que precisa se isolar em algum canto e ouvir uma música tranquila para recuperar as energias depois de apoiar o Corinthian­s. No estádio, ela se mistura à multidão, canta, sofre e “joga” com o time.

Juliana tem um grau leve de autismo, por isso a exposição em um estádio tende a ser mais desgastant­e, mas a paixão dela pelo futebol é maior. O sentimento a faz frequentar a arena corintiana, levando uma grande faixa na qual está escrito “Autistas Alvinegros”.

Os Autistas Alvinegros não são uma torcida organizada. Eles se definem como um movimento de inclusão social. Há um grupo de Whatsapp com cerca de 140 participan­tes, entre pessoas com autismo, familiares de autistas e psicólogos, além de um perfil recém-criado no Instagram com mais de 2 mil seguidores. “A gente quer ser conhecido mesmo como a torcida da inclusão, que possa organizar projetos e encontros inclusivos”, explica Juliana, funcionári­a do setor administra­tivo dos Correios.

INICIATIVA.

“Essa faixa abriu o caminho”, diz Rafael Souza Lopes. O auxiliar de expedição, de 35 anos, fundou o movimento com Juliana há pouco mais de três meses, em 2 de abril, Dia Mundial da Conscienti­zação do Autismo, data criada pela Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), em 2007.

Os dois torcedores se descobrira­m autistas tardiament­e. Ela aos 29 e ele aos 33. “Existem razões pelas quais os indivíduos podem não ter recebido diagnóstic­o de autismo quando crianças. Uma é que os critérios mudaram. Além disso, a conscienti­zação sobre o autismo costumava ser menos difundida e muitos indivíduos que atualmente atendem aos critérios podem não ter sido avaliados quando crianças”, explica André Cavallini, médico da Clínica Gravital, que atende pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

A lista é curta, mas há clubes preocupado­s com seus torcedores autistas. Na Neo Química Arena existe um espaço destinado a acomodar corintiano­s com TEA. Situada no setor Oeste Superior, a sala tem paredes e janelas com isolamento de som, bem como atividades desenvolvi­das para autistas e pessoas com deficiênci­a intelectua­l.

Outros espaços para autistas são encontrado­s no Couto Pereira, do Coritiba, e nos Aflitos, do Náutico. •

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ALEX SILVA/ESTADÃO Movimento criado em abril tem o seu espaço na arena alvinegra

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