O Estado de S. Paulo

Bolsonaro diz que tabela do IR será corrigida, mas não fala em quanto

- EDUARDO GAYER

Candidato à reeleição, presidente diz que acertou mudança com equipe econômica para valer a partir do próximo ano

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que acertou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, a revisão da tabela do Imposto de Renda para o ano que vem – uma promessa ainda da campanha eleitoral de 2018. “Já está garantido, mas não sei o porcentual”, disse ele, em entrevista à Rádio Guaíba, de Porto Alegre. “Imposto de Renda está virando um redutor de renda.”

Como mostrou o Estadão, com a previsão de reajuste do salário mínimo para R$ 1.294 em 2023, os brasileiro­s que ganharem 1,5 salário mínimo (R$ 1.941) vão ter de pagar IR a partir do ano que vem se a tabela não for corrigida. Isso significa que R$ 2,77 devem ser descontado­s todo mês do contracheq­ue desses trabalhado­res. Hoje, quem ganha 1,5 salário mínimo (R$ 1.818) é isento do imposto.

De acordo com Bolsonaro, a revisão será incluída no Orçamento do próximo ano. Ele falou em inclusão na Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO), mas o texto já foi aprovado no Congresso. O governo pode negociar os termos no Projeto de Lei Orçamentár­ia Anual (PLOA), que precisa ser enviado ainda este mês.

Hoje candidato à reeleição, Bolsonaro prometeu a correção da faixa de isenção do IR para R$ 5 mil nas eleições de 2018, mas a promessa não foi cumprida. Desde 2015, a tabela não é corrigida. O governo chegou a enviar uma proposta de reforma do IR taxando lucros e dividendos, reduzindo a tributação das empresas e aumentando a faixa de isenção dos atuais R$ 1,9 mil para R$ 2,5 mil. O projeto foi aprovado na Câmara muito modificado e está parado no Senado.

PRESIDENCI­ÁVEIS.

O tema também está na pauta dos demais candidatos à Presidênci­a. A campanha do petista Luiz Inácio Lula da Silva defende uma revisão da tabela do IR coordenada com uma mudança no modelo de tributação sobre consumo, renda e patrimônio. A proposta é ampliar a cobrança sobre a renda dos muitos ricos e reduzir a tributação que incide sobre quem ganha menos.

Ciro Gomes, do PDT, promete uma revisão completa do IR, com a fixação de uma alíquota de 35%. Hoje, a alíquota mais alta é de 27,5%. Já a campanha da candidata do MDB, senadora Simone Tebet, não fala em mudança na tabela e diz que o reajuste do IR não corrigiria as distorções de quem paga pouco ou nada de imposto em aplicações financeira­s. Para a equipe de Tebet, é preciso rever esses privilégio­s e, com isso, arrecadar dinheiro para uma política pública focalizada em quem não tem emprego e renda.

Quanto mais tempo a tabela fica congelada, mais o governo consegue aumentar a arrecadaçã­o com a inflação em alta. Segundo o presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco), Mauro Silva, a cada 1 ponto porcentual de inflação que não é repassado para a tabela o governo consegue arrecadar mais R$ 2 bilhões por ano. Pelos cálculos da Unafisco, a faixa de isenção estaria em R$ 4.465,34 se a tabela tivesse sido corrigida em 134,53% – a inflação acumulada entre 1996 e 2021. •

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