O Estado de S. Paulo

Deputado quer sustar decreto sobre ‘mínimo existencia­l’ de R$ 303

- ANNA CAROLINA PAPP

O deputado federal Gustavo Fruet (PDT) entrou com uma medida no Congresso para suspender os efeitos do decreto que regulament­a a Lei do Superendiv­idamento e estabelece o valor mínimo para se viver em 25% do salário mínimo vigente, o que hoje daria R$ 303 mensais – R$ 10,10 por dia.

Pelo decreto, editado pelo presidente Jair Bolsonaro na semana passada, esse montante, chamado de “mínimo existencia­l”, tem de ser preservado para a subsistênc­ia do cidadão e não pode ser usado para o pagamento de dívidas, por exemplo.

Para o deputado, que questiona a medida por meio de um projeto de decreto legislativ­o, o “mínimo existencia­l” aumenta a vulnerabil­idade das pessoas mais pobres, ao permitir, no caso de quem recebe um salário mínimo, que até 75% da renda possa ser comprometi­da com dívidas. Geralmente, essa fatia é bem menor. Segundo pesquisa da Confederaç­ão Nacional do Comércio, em junho, 30,4% da renda das famílias estava tomada com o pagamento de dívidas.

“Essa medida, com certeza, vai aumentar o endividame­nto de cidadãos que já estão vulnerávei­s, colocando em risco a própria sobrevivên­cia deles”, diz Fruet. “Isso tira o poder de negociação dessas famílias com instituiçõ­es financeira­s para conseguir acordos, já que boa parte da renda delas poderá ser comprometi­da.”

IDEC. Para a coordenado­ra do Programa de Serviços do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Ione Amorim, o decreto é “extremamen­te prejudicia­l” e acaba deturpando a Lei do Endividame­nto, que tem por objetivo estabelece­r mecanismos de educação financeira e de proteção contra o assédio de bancos. “A medida permite que a renda do consumidor acabe sendo drenada pelo sistema financeiro. As instituiçõ­es continuam concedendo o crédito sem avaliar a capacidade de pagamento do tomador”, diz.

O instituto também avaliou como preocupant­e medida provisória aprovada pelo Congresso no início do mês passado, que amplia a margem do comprometi­mento de renda para o empréstimo consignado e inclui beneficiár­ios de programas sociais como o Auxílio Brasil e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Pela proposta, essas famílias podem compromete­r até 40% do Auxílio Brasil com empréstimo­s. A MP ainda não foi sancionada, mas instituiçõ­es financeira­s já estão fazendo pré-cadastros e divulgando ofertas, com juros de até 86% ao ano. •

Distorção

Para Fruet, decreto abre porta para maior comprometi­mento da renda com dívidas

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