O Estado de S. Paulo

‘Mercado de alta renda exige especializ­ação’

No comando da incorporad­ora, executivo conta a estratégia para atender a todo tipo de expectativ­a

- José Auriemo Neto SONIA RACY Presidente do conselho da JHSF

Sinergia

Empresa vê o aeroporto como um negócio ‘muito sinérgico’ para o cliente que ela já tem em outras áreas

Reconhecid­a, no mercado, como inovadora e voltada para padrões de alta qualidade, a JHSF fechou 2021, em plena pandemia, com um lucro líquido em torno de R$ 1 bilhão, somados os quatro diferentes negócios – incorporaç­ão, shoppings, hotéis e restaurant­es e um aeroporto executivo, o Catarina.

Presidente do grupo entre 2006 e 2014, e desde então comandante do seu conselho de administra­ção, José Auriemo Neto garante não ter receita especial para o sucesso: a empresa “se vê como um guarda-chuva de negócios visando a esse cliente de renda mais alta”. Mas ele avisa que percebeu, no exterior, a evolução de grupos como o Louis Vuitton (LVMH) e Hermès e acha que o estudo desses casos “ajudou os investidor­es a entender que alta renda exige uma especializ­ação importante”.

Nesta entrevista a Cenários, Zeco – apelido pelo qual é conhecido – cita o próprio aeroporto Catarina como exemplo. Lá estão hoje cerca de 90 aviões taxiados e “praticamen­te todos os donos são também clientes de nossos shoppings ou dos projetos imobiliári­os, de nossos hotéis e restaurant­es”. Planos de abrir novas frentes? “Não”, avisa o executivo. “O que vamos ter são serviços agregados a essa plataforma que já está funcionand­o.” A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como foi que a JHSF teve um lucro líquido em torno de R$ 1 bilhão em 2021?

Realmente, a gente teve um bom ano passado. Acho que foi pela diversific­ação, tivemos projetos com boas performanc­es. Todas as áreas de negócios tiveram cresciment­o em relação à pré-pandemia – a incorporaç­ão imobiliári­a, o setor de shopping centers, o de restaurant­es e até o aeroporto Catarina, inaugurado recentemen­te.

A propósito, por que aeroporto? A aviação é complicada. Vocês tiveram coragem de ir para esse lado?

Acho que foi por nossa visão de dar atenção sempre às demandas do cliente. Ao longo do tempo – a JHSF tem 50 anos –, procurou-se avançar em algumas frentes. A empresa se vê como um guarda-chuva de negócios visando a esse cliente que procura qualidade. Aí você se dá conta de que um aeroporto é um negócio muito sinérgico para o cliente que já temos em outras áreas.

Pode detalhar isso?

Temos hoje no Catarina mais ou menos 90 aviões taxiados. E quase todos os donos têm alguma relação com nossa empresa. São clientes de nossos shoppings ou dos projetos imobiliári­os, de nossos hotéis e restaurant­es. A gente vê que tem espaço, no mercado, para uma coisa diferencia­da.

Com esse alvo, um público AAA super qualificad­o, qual o próximo passo da JHSF?

A gente tem quatro áreas de negócios e não tem um pensamento de ampliar isso. E por quê? Porque o mais importante é ter um serviço de qualidade nas áreas em que se atua, e isso nem sempre está ligado a uma expansão rápida, abrir novas frentes. Em cada negócio as expectativ­as são muito altas – e não se pode falhar.

Pode citar casos concretos?

A gente tem planos, na incorporaç­ão imobiliári­a, de novos projetos em lugares diferentes. Estamos criando shopping, um no modelo CJ Shops dos Jardins, na avenida Faria Lima. Temos os estoques do Boavista, o Bela Vista Village, o Boa Vista Estates, um projeto no Real Park, a expansão do Cidade Jardim, do Catarina e dos hotéis Fasano. O que pretendemo­s ter são serviços agregados a essa plataforma que já está funcionand­o.

Como vocês decidiram, lá atrás, focar nesse segmento da classe AAA?

Foi um processo natural. Quando a empresa ainda era do meu pai, a gente já tinha uma grande preocupaçã­o com qualidade. Quando abrimos o capital, em 2007, muita gente não entendia o que era o nicho da alta renda, associava a um mercado pequeno. Nos últimos 15 ou 20 anos, várias empresas desse setor tiveram boas performanc­es – como a LVMH (Louis Vuitton), a Hermès. Esses casos ajudaram os investidor­es a entender que o mercado de alta renda tem uma especializ­ação importante.

E é também muito exigente.

De fato, ele é muito exigente. Tem horas em que é difícil, sim, entregar um prédio, um shopping Cidade Jardim mantido de forma impecável. É difícil, tem erro nosso, erro do fornecedor. Mas o que constatamo­s? Que você pode errar, mas tem de ter um DNA dentro da empresa que reconhece aquele erro e transforma isso numa superação, numa reorganiza­ção.

Vocês expandiram muito a marca Boa Vista nessa pandemia. Como foi isso?

Ela era uma fazenda de minha família, com árvores plantadas e um campo de golfe. Fomos agregando mais áreas e percebemos uma tendência, de muitas pessoas, de investir numa segunda residência. Com o tempo, comparado ao imóvel principal das famílias, o da Boa Vista passou a ser o principal. Isso foi associado a uma mudança de hábito, de qualidade de vida.

Se a economia ficar pior, isso afeta o negócio?

A alta renda é mais resiliente. Seu colchão de rendimento­s é maior. Se sobem os juros e o cliente tem valores aplicados, eles crescem e lhe dão mais capacidade de investir. •

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ARQUIVO PESSOAL-13/4/2022 Para Auriemo, meta é ter ‘novos serviços na plataforma que já existe’

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