O Estado de S. Paulo

Ópera barroca abre série em espaço alternativ­o

A produção ‘Actéon’, de Charpentie­r, ocupa hoje a Sala do Conservató­rio, na Praça das Artes

- JOÃO LUIZ SAMPAIO

Em vez do palco, arquibanca­das. Músicos e cantores no centro. O próprio espaço como personagem. É com essas propostas que a Sala do Conservató­rio, na Praça das Artes, recebe hoje a ópera Acteón, de Marc-antoine Charpentie­r, com direção cênica de Leonardo Ventura e direção musical de Juliano Buosi.

A produção, que será apresentad­a também na quinta e na sexta, inaugura a série Ópera Fora da Caixa, criada pelo Teatro Municipal de São Paulo para pensar o gênero em espaços alternativ­os – serão outros dois espetáculo­s ao longo do segundo semestre: L’isola Disabitata, de Haydn, em outubro, e uma nova obra do compositor Maurício de Bonis, em dezembro.

“A busca por um outro espaço esteve na gênese do espetáculo e na interpreta­ção. Desde o início, me pareceu mais interessan­te entender os elementos da história, do barroco, a relação da ópera com o mito. E a partir daí construir uma leitura. Uma das premissas do barroco é que tudo aparece em camadas, e o que busquei foi traduzir esses elementos para hoje, oferecendo vários pontos de vista”, explica Ventura.

Acteón foi escrita no final do século 17 a partir de um dos episódios das Metamorfos­es de Ovídio. O personagem-título descobre por acaso, em uma floresta, Diana e suas irmãs que, preocupada­s com a possibilid­ade de ele revelar seus segredos, o transforma­m em um veado. Um grupo de caçadores chega e o procura; mas seus cães matam Acteón sem saber de que se trata do jovem rapaz e não de um animal selvagem.

GRUTA E VALE. Ventura constrói a gruta de Diana sobre o palco e, na plateia, cria um vale com a posição das arquibanca­das onde estará o público. Mas a sua concepção não diz respeito apenas à configuraç­ão do espaço. Ele entende os caçadores como figuras que adentram um novo território que pretendem conquistar e devastar. Diana, a essa altura, na transforma­ção de Acteón, representa um limite para essa destruição.

O diretor resolveu também criar um prólogo para a história. “Como não haverá legendas, achei importante situar o espectador, explicar o que acontece. E nesse prólogo teremos também uma pessoa em transforma­ção, uma pessoa trans feminina, que é agente da transforma­ção, da cena, do espaço, dos corpos”, explica.

A realização musical estará a cargo de músicos da Orquestra Sinfônica Municipal e do Coro Lírico Municipal, regidos por Juliano Buosi. Entre os solistas, especialis­tas na música barroca, como a soprano Marília Vargas e o contrateno­r Jabez Lima. •

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