O Estado de S. Paulo

Amigos para sempre

- Leandro Karnal LEANDRO KARNAL É HISTORIADO­R, ESCRITOR, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, AUTOR DE A CORAGEM DA ESPERANÇA, ENTRE OUTROS

Minha primeira e mais antiga amiga foi minha irmã Rose. Meu fiel amigo no primário (hoje seria a primeira etapa do Ensino Fundamenta­l) foi o Raul.

Cultivei amizade no Ensino Fundamenta­l com a Simone e a Mariângela. No Ensino Médio, fiquei próximo da Márcia e do Jorge. Fazíamos grupos de estudos. Eu era melhor em História e Português; o Jorge tentava nos ensinar Física e Matemática.

Na faculdade, reencontre­i a Simone e me aproximei da Virgínia. Encontrei também o Sérgio, que seria pioneiro na vinda a São Paulo para a pós-graduação. Ele acabou me convencend­o a imitá-lo.

Na vida de professor, fiquei muito amigo da Valderez e do José Alves. Quando criei meu escritório, surgiu a amizade com o Igor. As idas ao Rio fizeram surgir o Ricardo. A busca de bons médicos levou-me ao Jairo e à Luci. A CNN me trouxe Gabriela.

Sou cercado de muitos amigos. Identifiqu­ei alguns nomes, omitindo muitos, claro. A lista é bem maior.

A música A Lista (Oswaldo Montenegro) nos desafia a pensar na passagem do tempo. “Quantos você ainda vê todo dia, quantos você já não encontra mais?”

Nas formaturas, existia o hábito algo kitsch de cantar “amigos para siempre”. Bem, eternidade é um desejo, raramente realidade. Os amigos

Vocês possuem a lista dos amigos que atravessar­am a última década e ainda são eleitos do seu coração?

vêm e vão, podem mudar, porque a vida é rápida. Mesmo sabendo que não existe algo fixo no universo, confio nos meus amigos, sinto falta deles. Amo ter uma noite com longas conversas e busco amparo nos momentos difíceis.

Já fui traído... Existe “chifre” na amizade? Sim, infelizmen­te. São os que nos atacaram pelas costas ou se revelaram infiéis a um segredo guardado. Acontece. Somos humanos. Talvez doa mais do que ataques de inimigos. O “fogo amigo” é algo destrutivo nas guerras, na política e nas amizades.

Voltando à música: vocês possuem a lista dos amigos que atravessar­am a última década e ainda são eleitos do seu coração? Quem era sua amizade mais íntima em 2012? Onde ela está?

Meus amigos e minhas amigas me fazem falta. A maioria existe há muitos anos. Somos sobreviven­tes da vida e de nós mesmos. Imagino encerrar a vida com alguns ao meu redor, como em uma cena do filme As Invasões Bárbaras. Comeríamos, beberíamos uma última vez e riríamos com sentimento­s intensific­ados pelo fim próximo. Vivi com eles e, feliz, morreria olhando para meu círculo íntimo. É uma esperança: amigos na luz da vida e no mistério da morte. Afinal, amigos deveriam ser uma esperança para sempre.

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