O Estado de S. Paulo

Estrutura de mobilidade impacta valor dos imóveis

Regiões às margens das linhas de metrô e trem estão entre as mais valorizada­s de São Paulo

- RAFAEL MOURA

Por onde passa, o transporte metroferro­viário qualifica a mobilidade urbana, atrai investimen­tos privados e se torna mais atraente para quem busca imóveis para morar ou investir. O resultado da valorizaçã­o de bairros equipados com linhas de metrô ou trem se expressa diretament­e na alta do metro quadrado.

Um levantamen­to realizado pela ferramenta de monitorame­nto imobiliári­o Datazap, publicado em julho, mostra que regiões que margeiam as linhas de metrô e trem estão entre as mais caras de São Paulo. O destaque é a Linha 9-Esmeralda, da CPTM, que ocupa seis posições entre os dez bairros mais caros da capital paulista – a exemplo da região onde fica a Estação Cidade Jardim, cujo preço médio para venda está em R$ 20.467 o metro quadrado, valorizaçã­o de 18,26%, em relação a outubro de 2021.

Em segundo lugar no ranking, aparece a Linha 4-Amarela do metrô, que se conecta com a Linha 9-Esmeralda na Estação Pinheiros. O bairro de Pinheiros, inclusive, figura, na segunda posição, entre os mais caros para locação (R$ 88,20 o metro quadrado) e no sexto lugar para venda (R$ 15.650 o metro quadrado).

“A infraestru­tura de transporte nos bairros é, sem dúvida, um fator muito avaliado na escolha de imóveis, tanto para compra quanto para locação”, afirma o economista Pedro Tenório, responsáve­l pelo levantamen­to da Datazap. “Nesse sentido, aqueles localizado­s em bairros com mais acessibili­dade – trens, metrôs, ônibus e até ciclovias – tendem a ter maior demanda e, consequent­emente, maior valorizaçã­o.”

AO REDOR DAS ESTAÇÕES

O resultado disso é um boom imobiliári­o nos entornos das estações de trem ou metrô. De acordo com o Secovi-sp, entre junho de 2021 e maio de 2022, foram lançadas 84.352 unidades residencia­is na cidade. Desse total, 47% das unidades estão localizada­s a até 600 metros das estações de trem ou metrô. Aproximada­mente, metade dos imóveis custam entre R$ 240 mil e R$ 500 mil, e 50% deles são de um dormitório e 36% de dois.

Desde a assinatura do Plano Diretor Estratégic­o da cidade, em julho de 2014, as regiões à margem das linhas de metrô e trem (e também dos corredores de ônibus) se tornaram ainda mais valiosas para o mercado imobiliári­o. “O corredor da Avenida Rebouças-eusébio Matoso-consolação, por exemplo, é servido por uma das melhores linhas de metrô de São Paulo, a Amarela”, exemplific­a Cyro Naufel, diretor institucio­nal da imobiliári­a Lopes. Para o morador, as vantagens são evidentes: facilita a mobilidade e aumenta a estrutura urbana de todo o entorno.

Mas há outro motivo para essa escalada de novas unidades e de preços cada vez mais altos. A lei municipal que regulament­a o Plano Diretor, vigente até 2029, determina as especifici­dades para o surgimento de novos prédios na cidade. E valoriza a rede de transporte público: autoriza a construção de edifícios mais altos num raio de 200 metros dos corredores de ônibus e transporte de trilhos e restringe para até oito andares os prédios em regiões de baixa ofer ta de modais de transporte público.

PLANO DIRETOR

Para o urbanista Gabriel Rostey, o maior impacto no transporte público, principalm­ente estações de metrô, é a valorizaçã­o natural dos imóveis no seu entorno; mas o Plano Diretor trouxe mais incentivos para projetos, de acordo com a legislação. “Agora, é possível construir mais em um mesmo espaço, tornar a região mais atrativa, chamar investimen­tos”, afirma.

Em bairros como Pinheiros, antes incorporad­oras precisavam comprar áreas maiores para subir um prédio. Agora, é possível construir em terrenos pequenos. “Por isso, muitos moradores reclamam que casas geminadas e vilas estão sumindo e, junto com elas, a história da cidade, o que considero o lado negativo do Plano”, conta.

O urbanista lembra que a densidade na área urbana no município paulista é menos da metade da média de Paris. “Por exemplo, em um mesmo espaço, em Paris, há mais do que o dobro de pessoas vivendo, em comparação a São Paulo”, diz.

Segundo ele, o Plano Diretor criou incentivos e melhores condições para que terrenos menores sejam verticaliz­ados nos eixos de transporte.“tudo isso é positivo para a cidade; em Pinheiros, a densidade habitacion­al é baixa, cerca de 9.140, segundo dados da prefeitura de São Paulo”, afirma. “Mas tem o lado negativo, que é o apagamento da história da cidade, com a demolição de casas de construçõe­s de época”, diz.

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Devido à sua boa infraestru­tura de transporte, o bairro de Pinheiros, na zona oeste, tem sido uma das regiões mais procuradas pelas construtor­as

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