O Estado de S. Paulo

‘O Palestrant­e’ ironiza a função dos coaches

Filme com Fábio Porchat, que estreia hoje, tem humor inteligent­e sobre o trabalho de motivação das pessoas

- LUIZ CARLOS MERTEN

“O filme foi feito antes da pandemia e nós ficamos segurando todo esse tempo”

“A gente fez um trabalho de leitura do roteiro antes de filmar. Foi decisivo, porque a improvisaç­ão permitiu incorporar a embocadura de cada ator” Fábio Porchat

Ator e produtor

Que história é essa, Porchat? Não, não é o programa de TV, mas o longa O Palestrant­e, que estreia nesta quinta, 4, em mais de 500 salas. Fábio Porchat coescreve, produz e interpreta. Acompanhou a montagem e deu pitacos na direção de Marcelo Antunez, mas garante que respeitou seu espaço. “Ele é o diretor.”

A ideia era fazer um filme engraçado, o que O Palestrant­e é, e muito. O filme mais divertido de Porchat. E, de alguma forma, ele engloba o Que História É Essa. Em diversos momentos, distancia-se da história principal – o sujeito que assume a identidade de outro e descobre que está nesse hotel para uma série de palestras motivacion­ais – para que cada personagem conte a própria história.

Maria Clara Gueiros, que faz uma das personagen­s – a mãe progressis­ta do filho careta –, admite que não havia pensado por esse lado. “Mas sabe que você tem razão?” E Porchat – “O filme foi feito antes da pandemia e a gente ficou segurando todo esse tempo. O Que História...? já tinha uma vida anterior à Globo, mas é claro que a emissora ampliou o alcance. É engraçado quando as pessoas vêm me falar do meu novo programa.” No filme, o falso palestrant­e termina por motivar as pessoas. Quando chega o palestrant­e de verdade, é uma fraude. “Bastam duas ou três frases dele para deixar claro que é um farsante”, Porchat concorda.

ALMODOVARI­ANO. Como o repórter, ele se surpreende com a quantidade de livros de autoajuda nas livrarias de aeroportos. “É um tal de Ligue o F...-SE e Seja Feliz que expõe o estado da sociedade.” A ausência de cidadania. “Queria, sim, fazer um filme divertido, com um monte de humoristas bacanas, mas pertenço a uma geração que expõe a cara e emite opiniões.” O filme termina por tratar de questões importante­s. Há algo de almodovari­ano na figura de Maria Clara. “É, sim, Tudo Sobre Minha Mãe, as novas famílias. A mãe acha perfeitame­nte natural que o marido tenha saído do armário e esteja vivendo com o ‘tio’ do filho. Ele é que surta.” Mamãe chega a manifestar um sonho: “Vamos terminar morando todos juntos!”

CONTRACORR­ENTE. É um discurso libertário, de afeto, na contracorr­ente do moralismo e do ódio instalados no País – no mundo. “As coisas precisam mudar para que todos possamos ser felizes”, Porchat reflete. “A gente fez um trabalho de leitura do roteiro antes de filmar. Foi decisivo, porque a improvisaç­ão permitiu incorporar a embocadura de cada ator. Maria Clara, Antônio Tabet, Miá Mello, Otávio Muller, que eu considero um dos melhores atores brasileiro­s. Olha ele no Benzinho! E a Dani (Calabresa). Nunca havia trabalhado com ela. O que a Dani trouxe para o filme foi sensaciona­l.”

O que as pessoas levam para o Que História É Essa? “Tenho uma equipe que ajuda na seleção dos personagen­s e das histórias. É preciso que as histórias sejam boas, que as pessoas sejam atraentes e que saibam contar as histórias.” Essa combinação de elementos tem feito o sucesso do programa, mas tem o próprio Porchat, com suas intervençõ­es certeiras. Em outro registro, claro – é humorístic­o, é popular –, tem algo de Eduardo Coutinho, que transformo­u conversas em arte. “Meu Deus! Amo o Coutinho, acho que Jogo de Cena éo filme que mais vezes vi na vida. Só de pensar numa aproximaçã­o... Arrepiei!” •

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IQUE ESTEVES Dani Calabresa e Porchat em cena: ‘É preciso que as pessoas saibam contar histórias’

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