‘Fake news não são monopólio da direita’
Deputada, que se opôs a uma federação do PSB com o PT, diz ser alvo de difamação da esquerda
Sucessão na capital
PSB discute a ideia de ter a deputada federal como candidata à Prefeitura de SP em 2024
Nascida na periferia de São Paulo, Tabata Amaral tem 28 anos e é formada pela Universidade Harvard (EUA)
Principal aposta do PSB na disputa à Câmara dos Deputados em São Paulo, a deputada Tabata Amaral teve uma longa reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) antes de anunciar o apoio ao petista na corrida pelo Planalto. Tabata foi uma das principais vozes de oposição à entrada do PSB na federação composta por PT, PCDOB e PV, o que de fato não se confirmou.
Após o encontro com o expresidente e sua mulher, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, a deputada se diz confortável na condição de aliada. “Apoiar o Lula é sobre estar do lado certo”, disse.
Eleita com 264.450 votos em 2018, representando à época o PDT, Tabata foi a sexta deputada federal mais votada no Estado. No entanto, o partido do presidenciável Ciro Gomes rompeu com a parlamentar após ela votar a favor da reforma da Previdência.
Filha de uma diarista e um cobrador de ônibus, Tabata afirmou ao Estadão que foi alvo de fake news e ataques de lideranças de esquerda com quem vai dividir palanque nesta campanha. Confira trechos da entrevista a seguir.
Depois de se posicionar contra a federação PT-PSB, a senhora se sente confortável no palanque de Lula?
Isso tem a ver com ter coragem e lucidez no momento histórico que estamos vivendo. Estou com o coração muito tranquilo. A gente está vivendo um dos momentos mais desafiadores da história do nosso País. Eu poderia trazer mil anedotas, mas o show de horrores que foi isso do Bolsonaro convocar embaixadores para questionar as eleições e as urnas é um pequeno exemplo. Apoiar o Lula é sobre estar do lado certo.
Vai estar nos palanques com o ex-presidente?
Não tive nenhum convite específico, até porque essa campanha está se dando principalmente fora de São Paulo. Mas vou estar aqui nos palanques com (Fernando) Haddad, Márcio França e nossos candidatos a deputado estadual.
Na contramão dos partidos de esquerda, a sra. votou à favor da reforma da Previdência e isso abriu uma crise com seu antigo partido, o PDT. Como foi lidar com as críticas?
Recentemente, eu ouvi um argumento que fez muito sentido para mim, pena que não me disseram há três anos. Da mesma forma que a gente defende o Sistema Único de Saúde, acho contraditório que a esquerda defenda que dentro do sistema previdenciário algumas pessoas tenham privilégios só porque o lobby delas é mais poderoso. O que a gente fez com a reforma da Previdência foi justamente acabar com os privilégios, por exemplo, de políticos que se aposentavam com R$ 40 mil por mês, mas também igualar as condições de quem tinha uma aposentadoria mais favorável às pessoas mais humildes. Para mim, esse é um voto de esquerda. Minha mãe foi diarista e meu pai cobrador de ônibus. Meu voto a favor da reforma da Previdência foi um voto de esquerda. A esquerda tem de olhar para a empregada doméstica, para o pedreiro, que são as profissões da minha família, e não ficar sempre olhando para quem consegue se mobilizar e fazer barulho em Brasília.
A senhora foi muito comentada após votar no PL 4.188, que permite que bancos e instituições financeiras possam penhorar imóveis únicos de famílias para quitar dívidas. Foram muitas as críticas. Houve um erro?
Infelizmente, fake news e difamação não são monopólio da direita. Algumas pessoas do campo da esquerda se valeram de um erro em uma votação menor, que foi corrigida logo na sequência, para espalhar fake news de que eu tinha votado a favor desse projeto. Provei que era fake news e que as pessoas usaram de máfé. Não dá para comparar isso com a máquina de ódio do bolsonarismo hoje, mas fake news, ameaça e essa violência toda também existem no campo da esquerda. E isso também é mais feroz contras as mulheres no campo da esquerda. O machismo é a coisa mais suprapartidária do Brasil.
Fez algum pedido especial ao Haddad para apoiá-lo?
Fiz dois pedidos. Um foi que ele recebesse o plano de governo do PSB, que eu fui a coordenadora. Ele se comprometeu a integrar esse plano. E fiz outro pedido bastante direto: que metade do secretariado fosse composto por mulheres.
Haddad topou?
Ele topou. Agora estou cobrando esse anúncio público.
O PSB cogita seu nome para a Prefeitura de São Paulo. É uma possibilidade?
É uma possibilidade que será discutida depois das eleições. Precisamos de um pouquinho mais de humildade neste momento. •