O Estado de S. Paulo

Bolsonaro sanciona lei que autoriza doações no meio da campanha

- DANIEL WETERMAN

O presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou ontem o projeto que autoriza o governo a repassar verbas federais mesmo em período eleitoral. De distribuiç­ão de cesta básica a tratores, a proposta, que agora virou lei, elimina a trava que impedia ao Executivo direcionar recursos novos para redutos eleitorais, além permitir uma série de manobras como o redirecion­amento de verbas federais enviadas a Estados e municípios. O projeto é parte de um pacote revelado pelo Estadão.

O projeto autoriza um conjunto de doações do governo federal para municípios e instituiçõ­es privadas – redes de pesca, ambulância­s, tratores, máquinas agrícolas e emendas parlamenta­res – no meio da campanha. O texto dribla a lei eleitoral, que proíbe essa prática, ao mexer na Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO) de 2022 e favorece o presidente e parlamenta­res que apadrinham os recursos.

A mudança foi aprovada pelo Congresso no dia 12 de julho, enquanto as atenções estavam voltadas para a Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) Kamikaze e para a regulament­ação do orçamento secreto. Em abril, o Congresso já havia liberado as doações até julho. Agora, a nova lei dá aval para as doações no ano inteiro. A manobra fura o chamado “defeso eleitoral”, que proíbe práticas como pagamento de emendas e inauguraçõ­es na época da campanha.

INSEGURANÇ­A. “As mudanças adicionam inseguranç­a no processo de execução orçamentár­ia do passado e, ao alterar a lei eleitoral, a menos de 90 dias das eleições, inserem o elemento de inseguranç­a jurídica no calendário, podendo ser interpreta­do como abuso de poder e acarretar desequilíb­rio aos concorrent­es do pleito”, disse o diretor executivo do Instituto Nacional de Orçamento Público, Renatho Melo.

O mesmo projeto autoriza o governo a trocar o município e até o fornecedor de uma obra ou serviço com verba já empenhada, de um ano para outro. Um dos dispositiv­os permite ainda mudanças na localidade de verbas contratada­s em 2020. Com isso, um prefeito

Fora do teto

Textos foram aprovados na mesma semana da PEC Kamikaze, que autoriza governo a gastar R$ 41,2 bi

pode, por exemplo, perder o dinheiro já reservado para sua cidade se um candidato a deputado ou a senador considerar que ele não entregou os votos prometidos. •

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