O Estado de S. Paulo

Demonstraç­ão de força e coleta de informaçõe­s

- ROBERTO GODOY É JORNALISTA

Defesa

Ao lançar suas aeronaves, a China força Taiwan a despachar seus jatos de intercepta­ção

Silenciosa, brutal, poderosa: a China do engenheiro Xi Jinping está fazendo uma demonstraç­ão de força sem sutileza – nas primeiras 18 horas da ação militar, conseguiu bloquear Taiwan pelo mar e pelo ar. De quebra, disparou 11 mísseis DF-1, os menores do seu arsenal, contra objetivos ao largo e ao redor da ilha. Todas as ogivas atingiram os alvos. Cinco delas desceram em águas japonesas. Não houve um pedido de desculpas. O governo chinês não reconhece o perímetro de interesse declarado pelos países vizinhos.

As forças da China fizeram mais. Nas primeiras 24 horas, lançaram ao menos 56 aeronaves de diversos tipos – caças, aviões de coleta de dados, bombardeir­os, drones – em direção ao espaço aéreo sob controle de Taipei. Alguns deles, segundo agências de inteligênc­ia da Coreia e do Japão, bordejaram o limite taiwanês. Essa é a intenção.

INTERCEPTA­ÇÃO. Sob ameaça de uma invasão, a aviação da ilha é obrigada a despachar duplas de jatos de intercepta­ção. A missão custa caro. Especialis­tas do Centro Internacio­nal de Estudos Estratégic­os, de Washington, estimam que a conta de cada saída de um F-16 Falcon de Taiwan, armado com quatro mísseis leves de combate aéreo, bate fácil US$ 35 mil. Além disso, permite ao “inimigo” aferir informaçõe­s valiosas, como o tempo e o modo da reação dos procedimen­tos de defesa.

Os mísseis DF-1 têm 38 anos de história. Permanente­mente atualizado­s, podem levar cargas explosivas de 300 kg a 500 kg a distâncias de 300 km até 700 km utilizando sistemas digitais de navegação. Todas as versões permitem o uso de ogivas nucleares de baixa potência.

A Marinha da China mobilizou dois porta-aviões, fragatas pesadas, equipadas com helicópter­os e submarinos lançamísse­is para fechar os seis eixos de acesso aos terminais marítimos de Taiwan. Por extensão, o espaço aéreo também foi considerad­o zona de perigo.

O exercício vai até o meiodia de amanhã. Ontem, o Ministério da Defesa da China, anunciou que a fase dos ensaios com munição real foi encerrada. Mas a linha que divide o Estreito de Taiwan foi sobrevoada várias vezes pelos avançados jatos supersônic­os chineses J20, com capacidade de escapar da detecção por radar. •

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