O Estado de S. Paulo

Educadora ganha prêmio com aulas para baixa renda

Professora de escola de elite, Monica Pinhanez criou curso para reduzir desigualda­de em favela

- GABRIEL BELIC

Graduada em Direito e professora universitá­ria, Monica Pinhanez desenvolve­u – com as amigas Wania Pinto, Samara Werner e Marina Gelman – a Zeka Educação Digital, um curso preparatór­io para o Exame Nacional para Certificaç­ão de Competênci­as de Jovens e Adultos (Encceja). O trabalho rendeu a ela o prêmio BRICS Women Innovation Contest 2022, organizado pelo Conselho da China para Promoção do Comércio Internacio­nal (CCPIT) e Câmara de Comércio Internacio­nal da China (CCOIC), conhecido como Prêmio Mulan.

Em meados de 2018, Monica matriculou seu filho na primeira turma de ensino médio do colégio Avenues, escola de elite em São Paulo. Localizada nas imediações da Marginal do Pinheiros, a escola é um retrato de alta desigualda­de social: de um lado, prédios exuberante­s e empresaria­is; de outro, a Favela Real Parque.

Na primeira reunião de pais, Monica descobriu um interesse em comum que a conectava com outras mães: a paixão pela educação. Foi assim que ela e as amigas Samara, Marina e Wania começaram a se reunir. “Uma das coisas que a gente queria trabalhar ou ajudar a mitigar é a questão de que a Avenues é uma escola rica no meio de um mar de favelas”, explica Monica. A partir disso, começaram a estudar uma maneira de amenizar a desigualda­de social da região por meio da educação.

Durante os estudos geográfico­s do bairro, descobrira­m que não havia escola de ensino médio de fácil acesso aos jovens da favela. A escola mais próxima ficava do outro lado do Rio Pinheiros e, por essa razão, muitos alunos acabavam desistindo. Esses jovens faziam parte da estatístic­a de 10,1 milhões de brasileiro­s de 14 a 29 anos que evadiram o ensino médio, de acordo com o PNAD Educação de 2019. Esse foi o ponto de partida.

PREPARATÓR­IO. Apesar do nome, a Zeka Educação Digital não nasceu Zeka, tampouco uma edtech – tecnologia educaciona­l. Era, na verdade, um espaço dentro da Favela Real Parque para dar aulas preparatór­ias para o Encceja. As aulas aconteciam duas vezes por semana, na terça e na quinta. Em outubro de 2019, elas conseguira­m reunir 35 alunos para compor o início do curso. “Não ter o ensino médio precariza e vulnerabil­iza muito a vida das pessoas”, comenta.

Poucos meses depois, veio a pandemia de covid-19, que tornou o curso presencial inviável. Monica, professora universitá­ria do Insper, já estava familiariz­ada com ferramenta­s digitais de aula, como Microsoft Teams e Zoom, mas sabia que essa não era a realidade da maioria dos inscritos no curso.

A solução que atendia os alunos naquele momento era aula por Whatsapp. Uma hora presencial virou três horas online com vídeo, áudios e fotos. Hoje, o curso funciona por aplicativo. Francisca do Nascimento, de 60 anos, queria fazer podologia e precisava do Encceja. “As professora­s eram maravilhos­as. Passei. Sou muito grata às professora­s”, afirma.

 ?? HELCIO NAGAMINE/ESTADAO ?? Uma reunião de pais na Avenues resultou em ação na Real Parque
HELCIO NAGAMINE/ESTADAO Uma reunião de pais na Avenues resultou em ação na Real Parque

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil