O Estado de S. Paulo

Aniversári­o

- Alice Ferraz alice@fhits.com.br

Fazer aniversári­o, estar viva por mais um ano é sempre um lugar de reflexão. Tem quem festeje, tem quem fuja, tem quem finja não ser nada de mais, mas é. A idade se comporta como o marco de onde estamos na vida, nos estudos, na vida amorosa, familiar, profission­al e impõe, à nossa revelia, onde achávamos que deveríamos estar na nossa jornada pessoal.

COBRANÇAS. A cobrança vem de fora, eu sei, mas sobre essa não temos controle algum. Além de tentar minimizar os danos de falas sem sentido, como “você ainda não se formou, não casou, não teve filhos?”, vamos sendo cobrados pela visão idealizada da cultura do tempo em que vivemos.

A imposição que vem de dentro é o único lugar em que podemos trabalhar. Traçamos planos, desenhamos projetos de vida e imaginamos, quase determinan­do, quem seríamos em tal idade para, então, na data do aniversári­o, ficarmos frente a frente com a realidade e com quem de fato nos tornamos. Frustração na maior parte dos anos?

“Viva só o presente, sem expectativ­as”, diriam alguns. Mas apesar de sugerir um caso de amor que nutro pessoalmen­te com o tal presente, não fazer planos e viver sem objetivos parecem ser missão impossível, além de ir contra a própria natureza humana. Prestes a completar anos e vítima do tal julgamento interno anual, peguei-me fazendo comparativ­os com quem deveria ter me tornado – e, apesar de achar que segui caminhos mais tortuosos do que o necessário, gostei da imagem que vi.

Em segundos, no entanto, a mente inquieta não queria me deixar em paz e me deparei chegando ao lugar incomum de rever minha futura atuação, desacelera­r. Seguir por caminhos mais seguros seria o próximo passo. Afinal, tenho 52 anos, disse a um amigo querido. “Alice, quanto você ainda vai se atrever a crescer e a arriscar a partir de onde você está?”, foi a pergunta que me fez.

FORÇA DA CONSTRUÇÃO. O risco parece maior na maturidade, o medo de perdermos o que construímo­s entre afetos e trabalho e a lembrança das dores podem nos paralisar, mas talvez seja, como disse meu amigo, na disposição para se colocar nesse lugar de risco que esteja a força da construção e quando a vida se faça presente. •

É ESPECIALIS­TA EM MARKETING DE INFLUÊNCIA E ESCRITORA, AUTORA DE ‘MODA À BRASILEIRA’

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JULIANA AZEVEDO
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