O Estado de S. Paulo

A viagem de Pelosi

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Apresident­e da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, recebeu um raro apoio de 26 dos 50 senadores republican­os, incluindo o líder da bancada, Mitch McConnell.

Em comunicado, o grupo lembra que, “por décadas, membros do Congresso, incluindo ex-presidente­s da Câmara, viajaram para Taiwan”, referindo-se à visita do então líder republican­o Newt Gingrich, em 1997.

Pelosi declarou que a China impede Taiwan de ir a fóruns internacio­nais, como a Organizaçã­o Mundial de Saúde, durante a pandemia, quando os taiwaneses poderiam ter compartilh­ado sua bem-sucedida contenção do vírus. “Mas não vai isolar Taiwan nos impedindo de viajar para lá. E não vai ditar a agenda das autoridade­s americanas.”

Numa análise momentânea, a viagem foi um sucesso. Em meio a especulaçõ­es, na imprensa chinesa, de que o avião de Pelosi poderia ser impedido de pousar em Taipei, ela seguiu seu trajeto sem atropelos.

ESTRATÉGIA. Como escrevi na coluna de domingo passado, o presidente Xi Jinping não tem condições políticas de escalar esse conflito agora. Ele vai assegurar mais um mandato no Congresso do Partido Comunista, entre outubro e novembro. Já há um descontent­amento com os transtorno­s e a desacelera­ção econômica causados pela política de covid zero, e com os danos à imagem da

China resultante­s da “parceria sem limites” com a Rússia.

Saindo da política e indo para a geopolític­a, há dois movimentos com efeitos contrários. A resposta chinesa, na forma de exercícios militares que resultaram num bloqueio de

Taiwan, e disparos de 11 mísseis, 5 dos quais caíram na zona econômica exclusiva (ZEE) do Japão, potenciali­zam a coesão da região contra a China.

China e Taiwan estão separadas por 160 km. Entre a China e a ZEE, são no mínimo 2.630 km. Foi um ataque premeditad­o, horas antes da visita de Pelosi ao Japão. A Coreia do Norte, cliente da China, também deve retaliar contra a presença dela na zona desmilitar­izada que a separa da Coreia do Sul.

Tudo isso confirma a necessidad­e de Taiwan, Japão, Coreia do Sul, Índia, Austrália, Nova Zelândia, Malásia e Vietnã de estreitar a cooperação de segurança. Não só entre si, mas também com a Otan. No novo conceito estratégic­o elaborado na última cúpula da aliança, em junho, pela primeira vez a China é citada como ameaça.

Japão e Coreia do Sul participar­am como observador­es, também pela primeira vez. Os EUA lideram arranjos de segurança na região, como o Quad, com Índia, Japão e Austrália, que já se desdobrou em Quad Plus, acrescenta­ndo Coreia do Sul, Nova Zelândia e Vietnã. Em contrapart­ida, o que é percebido na China como afronta deve energizar os preparativ­os para a tomada da ilha.

O que é percebido na China como afronta deve energizar os preparativ­os para a tomada da ilha

É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIO­NAIS

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