Ouro Preto restaura casas centenárias de baixa renda
Preservação começa em moradias do século 18 e beneficia famílias sem recursos para obras e manutenção
A histórica Ouro Preto, em Minas Gerais, com 75 mil habitantes, detém um dos mais importantes conjuntos arquitetônicos do País. São casas com mais de 200 anos, erguidas com técnicas construtivas do período colonial, que fazem parte de um tecido urbano complexo, onde se entrelaçam o barroco e o contemporâneo, o passado e o presente. Na maioria dos casos, os moradores não dispõem de condições financeiras para conservação, quanto mais para investir na restauração desse singular patrimônio.
Para preservar as características históricas e culturais das habitações, mantendo a segurança dos moradores, o Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto (IA) deu início ao Projeto Bomserá que, além de restaurar o casario, vai capacitar quem vive no local para a conservação do imóvel.
O projeto começa em três casas do século 18 com apoio do escritório técnico local do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Instituto Federal
de Minas Gerais (IFMG) e tem ações educativas, que acontecem em paralelo às oficinas de restauro voltadas para a comunidade, professores e alunos do ensino médio de Ouro Preto e região.
As casas foram selecionadas entre 16 moradias consideradas relevantes para a arquitetura urbana e a cultura local. As ações levam em conta a urgência do restauro conservacionista. As obras tiveram início em 27 de junho. “O objetivo é restaurar as casas e capacitar os moradores para que possam eles mesmos realizar a manutenção preventiva. Além disso, o projeto contribui para formar mão de obra qualificada para futuramente atuar em obras de restauração”, disse a diretora do IA, Bel Gurgel.
GERAÇÕES. A casa da cuidadora Jaqueline das Mercês Rodrigues, de 49 anos, já está sendo restaurada. As obras começaram pela retirada do reboco das paredes de taipa de mão (pau a pique). O sobrado de nove cômodos, no bairro Cabeças, tem quase 300 anos. “Muitas gerações da nossa família viveram nela. Minha avó Violeta recebia os irmãos, filhos, netos em reuniões familiares que foram mantidas pela minha mãe, Aparecida.” Aparecida Rodrigues morreu em janeiro, aos 78 anos, um mês após saber que a casa tinha sido contemplada com o restauro gratuito.
“Cheguei em casa e a encontrei com os olhos inchados de tanto chorar, mas de alegria. Nossa casa estava quase caindo e reformar era um sonho dela. Não tínhamos condições, pois teria de ser uma restauração, que é muito cara”, disse a filha.
As oficinas contam com aporte pedagógico de carpinteiros, pedreiros, pintores e instaladores que atuam na área dos ofícios tradicionais, além de tecnólogos, pesquisadores e professores – os dois últimos, por meio de parceria firmada com o curso de Conservação e Restauração de Bens Imóveis do IFMG – Câmpus Ouro Preto, direcionada a alunos da instituição, profissionais da construção civil em busca de qualificação e outros interessados.
O projeto, apoiado também pelo Ministério do Turismo e Instituto Cultural Vale, tem duração prevista para seis meses e recebeu investimento de R$ 1,4 milhão.